terça-feira, 5 de março de 2013

O melhor estímulo

No último post assinado por mim O "mais, o "melhor", o "primeiro" comentei sobre a preocupação das mães em estarem estimulando as crianças desde os primeiros dias de vida. Para quem leu com pressa, ou sem a devida atenção pode ter parecido que sou contra a estimulação infantil. Por isso resolvi voltar ao assunto hoje.

Quero chamar a atenção não é para a estimulação em si e sim para o excesso desta. E que isso pode ser mais prejudicial do que saudável à criança. No caso de uma infância vivida sob a pressão da busca de resultados, com agenda cheia de atividades e com pouco tempo para lazer. Ou seja, a vida de um "mini-adulto".

Sem falar que se perde o prazer das descobertas, pois constantemente estimuladas os aprendizados naturais de cada fase passam despercebidos, pois estes já foram "adiantados" na fase anterior. 

Lembrei agora do desenho animado que mais gosto: Sid, o Cientista. Para quem não conhece o personagem toda manhã ele faz uma "descoberta" e a partir dela aprende "tudo" sobre aquela coisa. Faz tempo que fiz a faculdade de Letras, mas lembro vagamente sobre o Construtivismo um método de ensino que apreende a educação tendo como ponto de partida as experiências e conhecimentos já adquiridos pela criança. (Caso alguma pedagoga leia e queira colaborar deixando algo mais sobre o assunto nos comentário, só podemos agradecer)

Tem coisa mais linda que um bebê de poucos meses descobrindo as mãozinhas? Quem tem um em casa, observe a forma atenta como olha para cada dedinho. Quem já teve, espero que tenha tido a oportunidade de observar e lembrar. E esta beleza pode ser repetida e testemunhada em cada nova descoberta. O poder de ficar em pé, de conseguir andar, de saber-se capaz de subir e descer, a mágica de poder colorir com tinta ou giz de cera... nem que sejam as paredes.

Então, na minha humilde opinião, o melhor estímulo é a presença de alguém que seja importante para a criança. Para estimular a linguagem nada melhor do que ter alguém que fale com a criança. Tv, dvd´s educativos, brinquedos interativos que falam (muitas vezes em português, inglês e espanhol) estimulam sim a aquisição da linguagem, mas não ensinam a interagir com outras pessoas, não expressam sentimentos, não nomeiam para a criança o que ela está fazendo ou o que ela está sentindo.

Mais uma vez voltando aos meus tempos de psicóloga de empresa. Muitas vezes cheguei a entrevistar pessoas com currículo escolar impecável, mas sem nenhuma habilidade social. Não sabiam lidar com ansiedade, pressão ou frustração que poderiam reagir das mais diversas formas, desde uma explosão emocional no meio do ambiente de trabalho, ou mesmo a necessidade de ter um afastamento do trabalho por estresse ou depressão. Nenhuma das alternativas é interessante nem para a empresa, muito menos para a pessoa.

Então antes de estimular seus filhos a serem excelentes alunos, grandes profissionais, estimule-os a serem BOA GENTE. Pois é isso que eles (e todo mundo) são antes de ter qualquer papel na sociedade. Somos todos pessoas. 

Em outras palavras, estimule a se comunicar adequadamente, a compartilhar, ensine o nome dos sentimentos e como lidar adequadamente com cada um, principalmente com os desagradáveis. Não raro quando frustrada, minha filha quer jogar as coisas no chão, mas quando isso acontece digo a ela: "Você pode ficar com raiva, não tem problema, mas não pode se comportar mal por isso."

Agora tem um detalhe importante: só podemos ensinar o que sabemos. Caso você tenha dificuldades nos seus relacionamentos, não sabe lidar corretamente com seus sentimentos, quanto mais cedo procurar ajuda melhor. Não uma ou duas vezes aconteceu de uma criança chegar à clínica com queixa de não respeitar autoridades, de responder agressivamente às pessoas, de não gostar de ser contrariado, etc. E no desenrolar da terapia, com algumas entrevistas com os pais chegamos a conclusão de que a criança está apenas copiando um dos modelos que já tem em casa. Alguns pais reconhecem e partem a procura de ajuda, outros simplesmente não dizem nada, mas "desaparecem" da terapia, outros continuam insistindo que querem que a criança mude, mas que eles não tenham que mudar. 

O que você gostaria que seu filho falasse para você? Que ele a ama, que você é importante para ele? Então seja você o modelo. Diga para ele o que sente. Lembre-se criança não faz o que a gente diz. Faz o que a gente FAZ! Se você quer a companhia dele na sua velhice, crie e fortaleça o vínculo hoje, dê a sua companhia a ele hoje.

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar." Dalai Lama


Cristine Cabral


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