quinta-feira, 17 de setembro de 2015

As meninas e o sexo

Minha filha é uma criança linda, não só aos meus olhos, pois sempre recebo elogios a sua beleza, inclusive com a frase "Eita, que quando ela for adolescente vai te dar trabalho... te prepara!" Frase comum, mas que me incomoda. E assim como tudo que me incomoda, parei para pensar de onde vem o incomodo...
Quando os meninos que são bonitos, essa frase não aparece. No máximo quando se pensa na adolescência dele o comentário é tipo "Vai ser o terror da menininhas!" Ou é a própria mãe admitindo que não quer nem imaginar como vai ser quando ele começar a namorar (já eu fico imaginando a sogra terrível que ela se tornará), que não quer nem pensar...

Pois eu penso! Embora não construa sonhos, nem gere expectativas. Minha filha é um ser humano com gostos diferentes do meu, que vai viver a adolescência dela em um mundo diferente do que eu vivi a minha, que vai sofrer influências diversas, além da educação que dou em casa e muitas outras coisas.

Por que ela me daria trabalho quando for adolescente? Só porque ela vai querer ter uma vida sexualmente ativa? Só porque a beleza dela irá despertar interesse nos meninos e em algumas meninas também? Eu só terei trabalho se for tentar evitar o inevitável: ela fazer sexo.

Lembro que há 25 anos atrás a minha geração foi o primeira a "ficar". Embora acredite que o "fenômeno" já devia acontecer antes, mas a minha geração foi a primeira a assumir o comportamento de beijar primeiro, perguntar o nome depois; a beijar alguém numa noite sabendo que no dia seguinte não haveria qualquer compromisso entre os dois "beijantes", a não ser o de repetir, caso tivesse sido interessante para ambos. Que problema era explicar isso para as mães!!! E para as avós??? Muitas achavam o "cúmulo do descaramento". Quantas de nós casou virgem? Quantas de nós casou com com o primeiro e único parceiro? Quantas de nós casou?

Cabe a mim, como mãe, alertá-la para as consequências de uma vida sexual ativa. Instruí-la quanto aos riscos de uma gravidez precoce, quanto a doenças sexualmente transmissíveis, que existem meninos que mentem só para conseguir sexo, assim como existem meninos que se apaixonam loucamente, tanto que podem se tornar inconvenientes. Que camisinha deve ser usada SEMPRE, mesmo depois de casada, pois traições são fatos (perdoáveis ou não) e com elas podem vir as DST's. Que sexo é algo muito bom, mas que exige responsabilidade. Que pode ser feito sem amor, mas com amor é muito melhor. Que príncipe encantado não existe, mas que existem caras legais cujos defeitos não serão problemas aos olhos dela. Que as mulheres têm tanto direito sobre seus corpos quanto os homens, mas que ainda tem gente que acha errado uma mulher ter tido vários parceiros, que "no meu tempo" se dizia que era "rodada" (espero sinceramente que esse termo seja esquecido nos próximos 10 anos).

Não sei que caminho ela irá escolher. Não sei se ela vai gostar de meninos, ou de meninas, ou dos dois. Não sei se ela será romântica para esperar se entregar a um grande amor. Não sei se ela será uma "feminist bitch". Só sei que estarei sempre a apoiá-la. Sem qualquer tristeza pelo fato "meu bebê" (já não uso essa expressão há anos, a não ser para implicar com ela :) ) estar se tornando uma mulher independente. Sei que vou estar disponível para dar colo quando a primeira desilusão amorosa vier... sem essa conversa de "Isso é besteira, você é muito nova para saber o que é o amor, você tem mais é que se dedicar aos estudos."

Quem estiver lendo isso pode até não concordar com a minha postura e não ouso dizer que é a coisa certa a fazer. O que exponho aqui é apenas a MINHA forma de ver o mundo e a vida... a minha forma de educar minha filha.

Não quero ser uma mãe necessária. Se eu sou necessária é porque ela ainda é dependente. Ela só aprenderá a voar com as próprias asas se eu der espaço. Sei que ela irá cair. Sei que irá doer (nela e em mim). Mas o erro faz parte da aprendizagem. A dor e o sofrimento fazem parte da vida (da dela e da minha) e quanto mais cedo a gente aprende a lidar com eles, menos a gente adquire cicatrizes emocionais. 

A palavra chave é RESILIÊNCIA, mas isso é assunto para um outro post.

Cristine Cabral

Um comentário:

  1. Amiga, vc escreveu tudo que eu queria ter escrito. Inclusive para um menino.
    É comum, mesmo sendo mãe de menino, eu escutar a frase. Não sei com qual pensamento ou intenção me dizem. Mas, costumo pensar comigo e às vezes dizer: "Ele vai ser ensinado sobre comportamento e consequências". Tal como você tão bem escreveu...."Sexo sem amor, sexo com amor..." e todas as consequências de uma vida sexual ativa. Negar que os filhos terão vida sexual realmente deve dar muito trabalho....rsrsrrs

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