sexta-feira, 23 de maio de 2014

Quando não se consegue amamentar - Parte I


Quando estava pensando em escrever essa postagem, e, o título o primeiro que coloquei foi "quando não acontece o que é esperado". Então, veio em minha mente: e alguma vez acontece como o esperado? E o que é esperado?
Acho que todos concordam que o esperado é aquela linda cena do bebê mamando no peito da mãe, tranquilamente, como se ali fosse seu segundo útero, o melhor lugar do mundo para ele. Aquela troca de olhares e sorrisos que fazem os olhos de muitas de nós se encher de lágrimas... e várias propagandas de tv ganharem o nosso coração...
Comigo não foi assim! E hoje sei que para muitas mulheres não é assim. Passei anos lendo diversas coisas sobre gravidez, preparando-me para a maternidade, e especialmente no período da gestação sobre os benefícios do aleitamento materno, o quão contra indicado é o uso da mamadeira, da chupeta, etc. Mas, em nenhum lugar li sobre quando a mãe não consegue amamentar. Parece que o fato de várias mulheres não conseguirem amamentar não existe.
Nos dois dias que fiquei na maternidade nasceram 4 crianças, incluindo o meu filho, e dessas 4 apenas 2 conseguiram mamar sem problemas, ou seja, as outras duas, os outros 50% não conseguiram.
Os artigos, matérias, apostilas, não nos contam que nem toda criança nasce com a habilidade de sugar já desenvolvida, que alguns precisam ser ensinados, ou ainda que precisam de um tempo maior para apresentar essa habilidade. Também não nos informam que se a criança não consegue sugar e o seu leite logo desce, e você não ordenha esse leite, o seu seio vai ficando cheio a tal ponto que fica tão duro que sua criança após aprender a sugar não vai conseguir sugar o seu seio, porque simplesmente é da ordem do impossível para qualquer bebê. E isso foi o que aconteceu comigo e com meu filho.
Esquecem de avisar as mães que não tem o bico do seio protuberante, que existem alternativas para que seu filho consiga ser amamentado. E que não é qualquer bico de seio que é considerado adequado, tem que ser aquele bicão mesmo. Esse foi o caso da outra criança no hospital.
A política do hospital em que nasceu meu filho e da pediatra que nos atendeu era deixar a criança sem qualquer alimentação, desde que o nível de glicose não baixasse, até que ele conseguisse mamar na mãe. Eu e a outra mãe perguntamos: Podemos usar a bombinha para tirar o leite em excesso, pois nossa mama já está ficando dura? Podemos usar o bico intermediário de silicone para facilitar a criança sugar? A resposta foi negativa a todas as perguntas, alegando que a bombinha ia danificar o seio e que a criança ia viciar no bico intermediário e depois não iria pegar o seio da mãe. E enquanto isso, meu filho chorava de fome em nosso quarto, após mais de 24h sem conseguir mamar, e sendo que dessas, umas 12h de tempos em tempos vinham tirar sangue dele para saber se a glicose estava baixa, pois só se baixasse ele poderia tomar a fórmula láctea. E a mesma coisa no quarto ao lado com a outra mãe.
Você se sente inútil, é sua primeira grande falha como mãe. Todos esperam que você amamente, seu filho precisa do seu leite. Todos perguntam ele está mamando bem? E você ali incapaz de suprir a primeira necessidade do seu filho.
Junto com esses sentimentos horríveis vem a grande preocupação: meu filho está com fome, precisa ser alimentado. E no hospital todos se recusavam a dar outro leite ao bebê, pois ele ainda não tinha baixado o nível da glicose...Então, seu primeiro ato desesperado como mãe, e como pai, pois meu esposo estava passando por tudo isso comigo, é pedir desesperada a enfermeira que dê a fórmula para criança parar de chorar de fome. Você cogita partir para ignorância, ir até a farmácia e comprar o leite e alimentar seu filho. Não foi necessário chegarmos aos extremos. Deram uma dose de leite ao bebê na nossa segunda noite no hospital. De manhã a pediatra ensina mais uma vez como dar de mamar, já que a criança já aprendeu a sugar, e dá alta. Mas, a mama estava empedrada e eu tinha pouco bico. Assim, meu filho ainda passou fome por dois dias até irmos a uma outra pediatra.
Chorei muito durante esses dois dias. Sentia-me uma completa incompetente. Meu sentimento era de que minha obrigação como mãe era nutrir meu filho, só que eu o recebia em meus braços, ele não conseguia mamar, chorava um choro desesperado e eu chorava como ele por dentro e por fora.
Acredito que precisam haver mais artigos e matérias sobre as dificuldades que existem para amamentar e principalmente que ofereçam conforto para as mães que não conseguem.
Quando você responde a uma pessoa que seu filho não mama no peito, ou que toma complemento é quase que automático você receber um olhar de crítica, ou de pena. Poucos são os olhares solidários, mas graças à Deus, sim eles existem! E eu os encontrei!
Quero dizer à você que me lê e que passou por algo parecido, ou que quem sabe ainda vai passar... que não conseguir amamentar é mesmo horrível, que esse sentimento de incompetência demora a passar. Mas, que como mães uma obrigação mais importante nos chama a realidade e a ação: nosso filho precisa ser alimentado, com o nosso leite ou com outro, mas ele precisa comer.
Quero dizer também que amamentar no seio materno, é o ideal generalizado pela mídia, mas que a vida real pode ser muito diferente. Contudo, não amamentar no seio materno não nos faz menos mãe mesmo, acredite! Freud tem toda uma teoria de vínculo afetivo que é estabelecido ao amamentar...Eu conheço uma pessoa que foi amamentada até os 5 anos, e trata a mãe pior do que muita gente trataria um inimigo. Assim como conheço uma que nunca foi amamentada no seio materno e tem um vínculo fortíssimo com a mãe.
O vinculo entre mãe e filho se estabelece de várias maneiras, e o mais importante, é o amor que você oferece ao seu filho, através do carinho, da disponibilidade, da paciência, da preocupação em sempre lhe ofertar o que é bom. Daquela mamadeira oferecida com amor, e carinho no seu colo. Das inúmeras trocas de fraldas, da hora do banho, no passeio na praça enfim... do contato diário que você tem com seu filho e no qual você demonstra para ele que ele é a pessoa mais importante do mundo para você.
Depois de choro, sentimento de incompetência, inúmeros conselhos e orientações de todas as partes, graças a ajuda da pediatra do meu filho, e do apoio do meu esposo, consegui amamentar meu filho no seio, porém não dessa forma idealizada e generalizada na sociedade e nos meios de comunicação. Ele mama no seio com o auxílio do bico intermediário de silicone e toma complemento, pois como demos complemento nos primeiros dias em que não consegui amamentar, só o meu leite não o satisfazia. Todavia, o mais importante é que ele cresce forte e saudável. Segundo a pediatra é uma criança saudável e muito esperta. Cresceu 2cm e meio e aumentou 1kg em um mês.
Vanessa Nascimento