sábado, 8 de fevereiro de 2014

Lidando com a morte...

Há mais ou menos 15 dias atrás minha filha havia me perguntado:
- Mãe, como as pessoas vão para o céu?
Pergunta foi despertada pelo fato de um tio-bisavô ter falecido aos 106 anos naquela semana. A minha explicação foi:
- Assim, quando as pessoas morrem a alma vai para o céu e o que fica é o corpo que a gente enterra. A alma é uma coisa que existe dentro da gente, mas que não dá pra ver, nem pra pegar. Deu pra entender?
- Não!
- Bem... é como o amor... ele não fica dentro da gente? Mas a gente não vê, nem pega, mas sente dentro da gente... deu pra entender agora?
- Humrum...

Dias depois dessa conversa que veio a falecer foi o meu pai. E quem teve que lidar com a morte fui eu... E não tem como falar em morte, sem falar em religião. A minha resposta à minha filha, foi a mais simples, a que encontrei que pudesse ser compreendida por quem tem 4 anos e vive em uma família de orientação católica. Mas no meu caso é diferente... sou cética e questionadora. A fé é algo que se tem ou não. Não existe mais ou menos fiel. 

Tive educação católica, estudei em escola de freira, mas muita coisa fica sem resposta, ou a resposta não me satisfaz. Fazendo uma comparação com a parábola do Semeador, eu digo que sou semente que caiu nos espinhos, até brotou, mas não dá frutos. No meu caso os espinhos não são os pecados, mas o que leio, estudo e que faz com que esteja sempre perguntando como? por que? isso é biologicamente possível? foram levados em consideração o contexto socio-econômico para que esta afirmação seja correta? Porém não sou semente que caiu nas pedras, ou que foi comida pelos pássaros, pois estes afirmam com certeza que Deus não existe. Também não tenho essa certeza, pois assim como não há provas que Ele existe, não é possível provar que não existe.

Um amigo escreveu há alguns meses depois de passar pela mesma situação que ele não havia "perdido" o pai, pois ele tem a certeza de que um dia irão se reencontrar. Feliz dele por ter esta certeza... Para mim, são só dúvidas. Mas isso não significa angústia, ou sofrimento. Não ter todas as respostas faz parte da vida...

O que mais me conforta é que independente de quem esteja certo, meu pai está melhor agora do que estava nos últimos meses. Se os espíritas estiverem certos, ele está em um lugar de luz e dentro de algum tempo terá uma nova vida, uma nova oportunidade. Se os evangélicos estiverem certos, ele está aguardando pelo juízo final num lugar onde não há dor nem sofrimento (Se eu estiver falando alguma bobagem, favor me corrijam nos cometários). Até mesmo se os ateus estiverem certos e não houver nada, ele não tem o céu, mas também não tem o desconforto da internação, dos aparelhos e procedimentos, nenhuma dor física, ou emocional... Se os católicos estiverem certos, ele está no céu, cercado daqueles que conheceu e já partiram e isto inclui o meu avô e minha avó (que não cheguei a conhecer nenhum). E esta seria a possibilidade que mais me confortaria...

Minha avó Suzete e meu pai Cabral
Meu pai foi uma pessoa muito admirada e amada, como professor, colega de trabalho, vizinho, esposo, pai, avô... mas tenho certeza que o maior amor que ele teve foi como filho. Até onde eu sei, minha avó sofreu várias perdas de bebês até conseguir ter o meu pai, o único filho, criado cercado de toda a atenção, de todo cuidado. E este filho tão amado, perdeu a mãe muito cedo, não sei ao certo, mas acho que foi algo próximo dos 20 anos... 

Quem tem fé tem certeza, eu tenho esperança... de que agora meu pai esteja nos braços da pessoa que mais o amou e que tiveram tão pouco tempo de convivência, mas que agora têm toda a eternidade para estarem juntos, falarem tudo que não tiveram tempo de falar e ele deve estar falando de cada um que deixou aqui e que ela não conheceu, começando pelos netos... e que eu um dia possa estar lá com eles e finalmente conhecer a minha avó.

Choro enquanto escrevo... mas esta tristeza vai passar daqui a pouco, pois acima da minha tristeza está a certeza de que ele está bem, esteja onde estiver. A tristeza vai passar, mas a lembrança não, nem a saudade. É possível sentir saudade e não sofrer...

E o melhor remédio contra a tristeza é a alegria... Alegria de ver minha filha saudável, assim como as outras pessoas da família, alegria de ter amigos presentes (mesmo que quilômetros, ou mesmo um oceano nos separe), alegria pelos bebês que acabaram de nascer e pelos que estão a caminho. 

Então se você me ver sorrindo não é por falta de amor ao meu pai, é por excesso de amor pela vida (minha e de quem eu amo).

Cristine Cabral

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