terça-feira, 23 de setembro de 2014

Quando os adultos temem unicórnios

Sabe a expressão "procurar chifre em cabeça de cavalo"? Pois é como eu vejo alguns adultos...

Diálogo com minha filha. (Troquei os nomes das crianças para proteger os coleguinhas de classe, não que tenham feito algo reprovável, mas por não ter conversado com as mães deles sobre o assunto.)

- Mãe, o João deu um beijo no José.
- Sim meu amor, amigos se beijam.
- Mas são dois meninos.
- Tudo bem, anjo, você não beija as suas amiguinhas?
- Eles vão se apaixonar?
- Assim: criança não se apaixona, criança não pode namorar, nem menino com menino, nem menina com menina e nem menina com menino. Quando crescer cada um escolhe.
- Mas a tia não gostou que eles se beijaram.
- Onde foi o beijo?
- Na bochecha. 

E agora? Tive de brincar, para não demonstrar meu descontentamento. Complicado quando uma "autoridade de ensino" tem uma opinião contrária à sua.

- Tia bobinha. hehehehe

Procuro de todas as formas dar uma educação inclusiva, sou contra qualquer tipo de preconceito e entendo que esses pequenos episódios do dia a dia são as melhores oportunidades de ensinar o respeito a toda e qualquer pessoa. Mas é complicado ir contra a maioria.

Até entendo a postura da professora. Afinal numa situação onde várias crianças que têm orientações diferentes, pais com opiniões diferentes é complicado. E reproduzir o discurso padrão é mais simples, principalmente se ela mesma tiver essa convicção. 

Explica, mas não justifica.

O que me incomodou muito foi o fato uma coisa simples, uma brincadeira, ou demonstração de carinho se tornar um "caso". Esse foi o assunto da manhã aqui em casa. Não sei se as outras crianças ficaram tão intrigadas quanto a minha filha, mas não é para tanto.

A maldade está na cabeça dos adultos, são eles que ficam procurando chifre em cabeça de cavalo e temem que essas brincadeiras sejam indícios de algum tipo de comportamento homossexual. (Já escrevi sobre esse tema no post Será que ele é...?)

Um beijo na bochecha não tem qualquer significado isoladamente, mas pode desencadear um série de comportamentos preconceituosos na cabecinha das crianças e assim teremos mais uma geração de pessoas que não sabem respeitar as diferenças.

E se por acaso alguns daqueles alun@s (@ é a forma de incluir os dois gêneros na mesma palavra) vier a se descobrir homossexual um dia? Certamente irá lembrar do olhar da professora, do riso dos colegas e começará o sofrimento desta pessoa. E se nenhum deles nunca vier a se descobrir gay, o comportamento de rir, de fazer piadas, ou fazer cara feia com demonstrações de carinho públicas homossexuais permanecerá.

Muitas mães e pais temem que seus filhos sejam homossexuais, alguns por questões religiosas, mas a grande maioria por ser uma condição (não é escolha, ou opção) que implica em sofrimento. E nenhuma mãe quer ver um@ filh@ sofrer. Mas fazem os filhos de outras mães sofrerem quando reproduzem comportamentos preconceituoso inconscientemente (embora existam muitas pessoas que são conscientemente preconceituosas, olhando apenas para a própria opinião e ignorando o sofrimento alheio, infelizmente)

Homossexualidade (não mais homossexualismo, fui corrigida no outro post sobre o assunto. O "ismo" dá ideia de doença, o "lidade" de identidade) não me é incômodo nem para conviver, muito menos para falar sobre o assunto. Respeito-@s muito. Principalmente aquel@s que sofreram muitos preconceitos, inclusive na família, mas que andam de cabeça erguida, assumid@s e sem fingimentos.

O que me incomoda (e muito!) é essa brincadeira de "namoradinho". Sou absolutamente contra a adultização, já que namorar é coisa que só gente grande faz. Existe também uma boa dose de machismo implícito nesse tipo de brincadeira, já que é "engraçado" se o menininho tenta "pegar" as meninas, mas se for a menininha a querer beijar os todos os meninos a brincadeira já não é tão engraçada. 

Sem falar que é uma medida protetiva contra pedófilos, que muitas vezes se dizem "namorados apaixonados" para seduzir e enganar.

Criança não namora! Com ninguém! Ponto final.

Quanta coisa por causa de um beijo... quanto preconceito implícito. As crianças não têm maldade e reproduzem o que vêem e ouvem. São espelhos dos adultos que a cercam. Estes menininhos provavelmente têm pais carinhosos que beijam os próprios pais (avós da criança), beijam irmãos e amigos e só. Não chega nem a ser assunto em casa, já que na casa deles tem beijo para todo mundo, vindo de todo mundo.Carinho não faz mal. Preconceito faz.


Por um mundo com mais respeito e menos preconceito.


Amem (é sem acento mesmo)

Cristine Cabral

Para continuar lendo sobre preconceitos: Livre estou, livre estou...





domingo, 31 de agosto de 2014

O tempo, o momento, a maternidade e a eternidade

"O tempo é relativo" máxima conhecida por todos, mas nunca essa relatividade é tão intensa quanto quando se tem um filho.

Normalmente contamos o tempo por eventos ou momentos... tempo de espera por um ônibus, pelo fim de semana, pelo fim do ano, pelo fim do curso, etc. Mas ser mãe é uma infinidade de eventos e momentos na qual a relação com o tempo é diferenciada. Rápido e lento se misturam, existem simultaneamente.

Já na gestação essa relatividade é sentida. 9 meses, 40 semanas, 280 dias uma espera interminável. 

Mas quando se para para pensar que tudo começa com apenas 2 células e resulta no milagre da vida e não uma vida qualquer como uma plantinha ou um animalzinho, mas uma pessoa, um ser humano capaz de amar, de aprender qualquer coisa que a humanidade já produziu ou descobriu, capaz de criar o que ainda parece impossível. Menos de um ano parece muito pouco para uma criação de tamanha importância e potencialidade.

Quanto tempo demora um ano para passar? 365 dias? A espera por um carnaval, uma páscoa, um dia das mães, um mês de férias, um dia dos pais, alguns feriados e o ano acaba quando se aproxima o natal... 

O primeiro ano de vida de um bebê é uma vida em um piscar de olhos para uma mãe. Um piscar de olhos com uma coleção de memórias e emoções que parece que muito mais tempo passou.


Se contamos o tempo colecionando conquistas, o primeiro ano de vida é uma eternidade: a primeira vez que segura o pescoço, o primeiro sorriso espontâneo (não-reflexo), a primeira vez que ergue o tronco quando de bruços, a primeira vez que senta, a primeira tentativa de engatinhar, a primeira vez em pé sem ajuda, o primeiro passo, a primeira palavra, mesmo que seja apenas a mesma sílaba repetida, mas com a intenção consciente de comunicação... Fora centenas de historinhas engraçadas, aventuras e sustos. Quantas coisas em tão pouco tempo.

365 dias e um serzinho indefeso, com apenas capacidades reflexas, se torna alguém capaz de andar, falar, se exibir, conquistar atenção e (até certo ponto) manipular um adulto.

Mas existe o contra-ponto, quando a eternidade é o tempo que demora a passar, quando este congela e o ponteiro parece andar para trás. O tempo de um antitérmico fazer efeito, o tempo que leva para o bebê pegar no sono para a mãe finalmente poder descansar e ironicamente, o tempo em que o bebê está dormindo, que por menor que seja, é tempo suficiente para a mãe sentir saudade e torcer para que já acorde.

E se não acorda o tempo é de contemplação. 

Este sim é o momento em que o tempo congela... admirar aquela pessoinha dormindo, olhar cada centímetro do corpo, perceber cada detalhe, cada dobrinha, olhar cada um dos dedos e unhas, sorrir junto quando ele sorri dormindo, observar a respiração, por a mão para sentir aquele coraçãozinho... Sentir um amor imenso, maior que o tempo e o espaço e muitas vezes chorar copiosamente numa mistura de sentimentos: amor, felicidade extrema, ternura, ansiedade e algumas vezes medo (as proporções variam de mãe para mãe)

Volto e meia estou perguntando às pessoas: "Qual foi a última vez que você fez algo pela primeira vez?". É só uma pequena referência para uma reflexão: "Você está vivendo, ou só existindo?" Pois se ligamos o automático por muito tempo a vida passa e você não percebe. Os bebês se tornam crianças, estes se tornam adolescentes e depois adultos e você nem viu.

Dizem que depressão é excesso de passado, ansiedade é excesso de futuro. O passado já foi e o futuro ainda não chegou. Só temos o presente. 

Curta o seu momento, a sua criança só terá a idade que ela tem hoje neste momento específico. Tudo mais pode-se fazer depois, mas testemunhar e compartilhar do crescimento e desenvolvimento de uma criança, da sua criança, é um momento que não se repete. 

As coisas se vão, as pessoas também, mas as lembranças dos momentos, principalmente os felizes, vão conosco para a eternidade.

Cristine Cabral


sábado, 9 de agosto de 2014

Feliz Aniversário MAMÃE!!!!!!

Eu e ela em algum momento de 1976
Hoje é o aniversário da minha mãe e a melhor forma que encontrei de homenageá-la foi fazendo este post.

O que falar da nossa relação? Que tem altos e baixos? Sempre! Momentos mais próximos ou mais distantes? Sim. Assim como qualquer outro tipo de relação.

Eu já fiz raiva. Ela a mim. E quem nunca fez raiva a alguém?
Eu já a decepcionei. Ela a mim. E quem nunca decepcionou alguém?
Eu já a deixei triste. Ela a mim. E quem nunca deixou alguém triste?
Eu já a fiz muito feliz. Ela a mim. E quem nunca deu felicidade a alguém?
Eu já a deixei orgulhosa. Ela a mim. E quem nunca se orgulhou de alguém?

É assim! E quanto mais próxima, mais longa, mais conturbada pode ser a relação. Principalmente somada aos famosos conflitos de geração, diferenças de valores pessoais e personalidades marcantes e difíceis.

Eventualmente temos nossos desacordos e quando isso acontece nos recolhemos. Digerimos, ou ruminamos (depende da gravidade da situação) o que quer que seja e com algum tempo (maior ou menor de acordo com o que seja) voltamos ao normal. Sem DR (discutir a relação). Sem pingos nos “i’s” ou cortes nos “t’s”. 

Simples assim. Dessa forma resolvemos nossos conflitos. Em silêncio. (Depois que me tornei adulta, quando eu era criança minha mãe gritava um bocado, assim como boa parte das mães que cuidam das crianças, da casa, trabalham, etc.)

NÃO é a MELHOR forma, nem a forma CORRETA. É só a NOSSA forma. Funciona! E ponto final.

Sem DR, pois no fundo sabemos que não podemos mudar uma à outra (embora por muitos anos ela tenha tentado mudar várias coisas em mim. Mas isso é papel de mãe: tentar moldar os filhos àquilo que é considerado por ela o melhor).

Aceitamo-nos com cada um de nossos defeitos e os toleramos, pois sabemos que não podemos viver uma sem a outra.

Eu e ela em algum momento de 1976
Embora eu saiba que um dia teremos que nos separar definitivamente. Não há por que negar a realidade. (Como não pensar nisso, já que amanhã é o primeiro Dia dos Pais, sem meu pai?) Vivo na esperança que este dia demore bastante. Que só venha quando ela já for tataravó dos meus bisnetos. E que eu não vá antes dela. Não por egoísmo de achar que minha vida vale mais que a dela, mas para que ela não sofra a dor de me perder, já que nenhuma mãe jamais deveria passar pela dor de perder um filho.

A vida já levou meu pai, mas eu ainda tenho minha mãe. Foi ela que me alimentou, que cuidou de mim doente, que ensinou-me a caminhar com minhas próprias pernas (no sentido denotativo e conotativo), que me levou às festas (não só ir deixar e buscar, mas estar lá), quem eu podia chamar a qualquer hora do dia ou da noite, por qualquer imprevisto e tantas coisas mais...

Digo e repito: “Todo erro de mãe deve ser perdoado. Pois se mãe erra é tentando acertar.” (Abro este parêntese para deixar claro que aquelas que abandonam, ou agridem violentamente não têm o direito de receber este nome “MÃE”)

Eu e ela em algum momento de 2014
Certamente cometerei os meus erros como mãe, já que sou imperfeita como qualquer outro ser humano. E a minha relação com minha filha não terá a mesma forma, mas será igualmente cúmplice.

Vinícius de Moraes dizia “O perdão também cansa de perdoar.” Mas uma mãe nunca cansa de perdoar. E os filhos, cansam? Eu, não!

Imagino que depois de ler isso, possivelmente depois de algumas lágrimas, ela não vá comentar, a não ser por escrito (pois pode esconder o choro  (se vier) atrás da tela do computador), já que tenho uma mãe de emoções (todas!) à flor da pele e de intensidade homéricas. Então não precisa dizer... eu sei! 

Feliz aniversário e muitos, muitos, muitos anos de vida! Amo-te! 


Cristine Cabral

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Quando não se consegue amamentar - Parte I


Quando estava pensando em escrever essa postagem, e, o título o primeiro que coloquei foi "quando não acontece o que é esperado". Então, veio em minha mente: e alguma vez acontece como o esperado? E o que é esperado?
Acho que todos concordam que o esperado é aquela linda cena do bebê mamando no peito da mãe, tranquilamente, como se ali fosse seu segundo útero, o melhor lugar do mundo para ele. Aquela troca de olhares e sorrisos que fazem os olhos de muitas de nós se encher de lágrimas... e várias propagandas de tv ganharem o nosso coração...
Comigo não foi assim! E hoje sei que para muitas mulheres não é assim. Passei anos lendo diversas coisas sobre gravidez, preparando-me para a maternidade, e especialmente no período da gestação sobre os benefícios do aleitamento materno, o quão contra indicado é o uso da mamadeira, da chupeta, etc. Mas, em nenhum lugar li sobre quando a mãe não consegue amamentar. Parece que o fato de várias mulheres não conseguirem amamentar não existe.
Nos dois dias que fiquei na maternidade nasceram 4 crianças, incluindo o meu filho, e dessas 4 apenas 2 conseguiram mamar sem problemas, ou seja, as outras duas, os outros 50% não conseguiram.
Os artigos, matérias, apostilas, não nos contam que nem toda criança nasce com a habilidade de sugar já desenvolvida, que alguns precisam ser ensinados, ou ainda que precisam de um tempo maior para apresentar essa habilidade. Também não nos informam que se a criança não consegue sugar e o seu leite logo desce, e você não ordenha esse leite, o seu seio vai ficando cheio a tal ponto que fica tão duro que sua criança após aprender a sugar não vai conseguir sugar o seu seio, porque simplesmente é da ordem do impossível para qualquer bebê. E isso foi o que aconteceu comigo e com meu filho.
Esquecem de avisar as mães que não tem o bico do seio protuberante, que existem alternativas para que seu filho consiga ser amamentado. E que não é qualquer bico de seio que é considerado adequado, tem que ser aquele bicão mesmo. Esse foi o caso da outra criança no hospital.
A política do hospital em que nasceu meu filho e da pediatra que nos atendeu era deixar a criança sem qualquer alimentação, desde que o nível de glicose não baixasse, até que ele conseguisse mamar na mãe. Eu e a outra mãe perguntamos: Podemos usar a bombinha para tirar o leite em excesso, pois nossa mama já está ficando dura? Podemos usar o bico intermediário de silicone para facilitar a criança sugar? A resposta foi negativa a todas as perguntas, alegando que a bombinha ia danificar o seio e que a criança ia viciar no bico intermediário e depois não iria pegar o seio da mãe. E enquanto isso, meu filho chorava de fome em nosso quarto, após mais de 24h sem conseguir mamar, e sendo que dessas, umas 12h de tempos em tempos vinham tirar sangue dele para saber se a glicose estava baixa, pois só se baixasse ele poderia tomar a fórmula láctea. E a mesma coisa no quarto ao lado com a outra mãe.
Você se sente inútil, é sua primeira grande falha como mãe. Todos esperam que você amamente, seu filho precisa do seu leite. Todos perguntam ele está mamando bem? E você ali incapaz de suprir a primeira necessidade do seu filho.
Junto com esses sentimentos horríveis vem a grande preocupação: meu filho está com fome, precisa ser alimentado. E no hospital todos se recusavam a dar outro leite ao bebê, pois ele ainda não tinha baixado o nível da glicose...Então, seu primeiro ato desesperado como mãe, e como pai, pois meu esposo estava passando por tudo isso comigo, é pedir desesperada a enfermeira que dê a fórmula para criança parar de chorar de fome. Você cogita partir para ignorância, ir até a farmácia e comprar o leite e alimentar seu filho. Não foi necessário chegarmos aos extremos. Deram uma dose de leite ao bebê na nossa segunda noite no hospital. De manhã a pediatra ensina mais uma vez como dar de mamar, já que a criança já aprendeu a sugar, e dá alta. Mas, a mama estava empedrada e eu tinha pouco bico. Assim, meu filho ainda passou fome por dois dias até irmos a uma outra pediatra.
Chorei muito durante esses dois dias. Sentia-me uma completa incompetente. Meu sentimento era de que minha obrigação como mãe era nutrir meu filho, só que eu o recebia em meus braços, ele não conseguia mamar, chorava um choro desesperado e eu chorava como ele por dentro e por fora.
Acredito que precisam haver mais artigos e matérias sobre as dificuldades que existem para amamentar e principalmente que ofereçam conforto para as mães que não conseguem.
Quando você responde a uma pessoa que seu filho não mama no peito, ou que toma complemento é quase que automático você receber um olhar de crítica, ou de pena. Poucos são os olhares solidários, mas graças à Deus, sim eles existem! E eu os encontrei!
Quero dizer à você que me lê e que passou por algo parecido, ou que quem sabe ainda vai passar... que não conseguir amamentar é mesmo horrível, que esse sentimento de incompetência demora a passar. Mas, que como mães uma obrigação mais importante nos chama a realidade e a ação: nosso filho precisa ser alimentado, com o nosso leite ou com outro, mas ele precisa comer.
Quero dizer também que amamentar no seio materno, é o ideal generalizado pela mídia, mas que a vida real pode ser muito diferente. Contudo, não amamentar no seio materno não nos faz menos mãe mesmo, acredite! Freud tem toda uma teoria de vínculo afetivo que é estabelecido ao amamentar...Eu conheço uma pessoa que foi amamentada até os 5 anos, e trata a mãe pior do que muita gente trataria um inimigo. Assim como conheço uma que nunca foi amamentada no seio materno e tem um vínculo fortíssimo com a mãe.
O vinculo entre mãe e filho se estabelece de várias maneiras, e o mais importante, é o amor que você oferece ao seu filho, através do carinho, da disponibilidade, da paciência, da preocupação em sempre lhe ofertar o que é bom. Daquela mamadeira oferecida com amor, e carinho no seu colo. Das inúmeras trocas de fraldas, da hora do banho, no passeio na praça enfim... do contato diário que você tem com seu filho e no qual você demonstra para ele que ele é a pessoa mais importante do mundo para você.
Depois de choro, sentimento de incompetência, inúmeros conselhos e orientações de todas as partes, graças a ajuda da pediatra do meu filho, e do apoio do meu esposo, consegui amamentar meu filho no seio, porém não dessa forma idealizada e generalizada na sociedade e nos meios de comunicação. Ele mama no seio com o auxílio do bico intermediário de silicone e toma complemento, pois como demos complemento nos primeiros dias em que não consegui amamentar, só o meu leite não o satisfazia. Todavia, o mais importante é que ele cresce forte e saudável. Segundo a pediatra é uma criança saudável e muito esperta. Cresceu 2cm e meio e aumentou 1kg em um mês.
Vanessa Nascimento

sexta-feira, 7 de março de 2014

Não há inteligência. Há inteligênciassssss!

Quando era criança eu nunca era incluída entre os alunos inteligentes, não me destacava nas notas, era tímida demais para me manifestar em sala e a proporção que a dificuldade foi aumentando, a timidez que me impedia de esclarecer dúvidas, fez com que meu rendimento diminuísse e eu passei a ser qualificada de aluna desinteressada, "insuficiente", que não era esforçada, etc.

Logo nos primeiros semestres do curso de Psicologia uma "crise existencial" se instalou. Muitas vezes assuntos eram debatidos longamente entre professor e alunos que não conseguiam entender, algo que eu havia entendido na primeira explicação. Porém isso não era motivo de orgulho, mas sim de insegurança, pois provavelmente eu estaria enganada e tinha entendido errado, pois (para mim mesma) não era uma aluna inteligente. Então me esforçava para tentar enxergar o meu erro. 

E para mim era ainda mais estranho quando a palavra inteligente chegava a mim como um elogio. Logo pensava: "Essa pessoa me conheceu agora, logo vai perceber que não sou tão inteligente assim."

Ainda hoje não consigo elencar este adjetivo entre as minhas qualidades. Mas sei que não sou tão "burra" quanto achava que era. Embora a palavra burra nunca tivesse sido usada, era assim que me sentia.

É comum ouvir a pergunta: "E el@ é inteligente?" No entanto a pergunta adequada seria: "Em quais inteligências el@ se destaca?"

Pois fiquem sabendo que existem NOVE tipos de inteligência.

Lógico-matemática

A capacidade de confrontar e avaliar objetos e abstrações, discernindo as suas relações e princípios subjacentes. Habilidade para raciocínio dedutivo e para solucionar problemas matemáticos. Possuem esta característica matemáticos. 

Linguística

Caracteriza-se por um domínio e gosto especial pelos idiomas e pelas palavras e por um desejo em os explorar. É predominante em poetas, escritores, e linguistas, como J.K. Rowling, T. S. Eliot, Noam Chomsky, J. R. R. Tolkien, W. H. Auden,Fernando Pessoa,Machado de Assis entre outros.

Musical

Identificável pela habilidade para compor e executar padrões musicais, executando pedaços de ouvido, em termos de ritmo e timbre, mas também escutando-os e discernindo-os. Pode estar associada a outras inteligências, como a lingüística, espacial ou corporal-cinestésica. É predominante em compositores, maestros, músicos, críticos de música como por exemplo, Ludwig van Beethoven, Leonard Bernstein, Midori, John Coltrane, Mozart, Maria Callas, Jimmy Page.

Espacial

Expressa-se pela capacidade de compreender o mundo visual com precisão, permitindo transformar, modificar percepções e recriar experiências visuais até mesmo sem estímulos físicos. É predominante em arquitetos, artistas, escultores, cartógrafos, navegadores e jogadores de xadrez, como por exemplo Michelangelo, Frank Lloyd Wright, Garry Kasparov, Louise Nevelson, Helen Frankenthaler, Oscar Niemeyer.

Corporal-cinestésica

Traduz-se na maior capacidade de controlar e orquestrar movimentos do corpo. É predominante entre atores e aqueles que praticam a dança ou os esportes, como por exemplo Cristiano Ronaldo, Marcel Marceau, Martha Graham, Michael Jordan, Pelé, Eusébio, Messi.

Intrapessoal

Expressa na capacidade de se conhecer, estando mais desenvolvida em escritores, psicoterapeutas e conselheiros, como por exemplo, Sigmund Freud.

Interpessoal

Expressa pela habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos outros. Encontra-se mais desenvolvida em políticos, religiosos e professores, como por exemplo o Mahatma Gandhi e Adolf Hitler .

Naturalista

Traduz-se na sensibilidade para compreender e organizar os objetos, fenômenos e padrões da natureza, como reconhecer e classificar plantas, animais, minerais, incluindo rochas e gramíneas e toda a variedade de fauna, flora, meio-ambiente e seus componentes. É característica de biólogos, geólogos mateiros, por exemplo. São exemplos deste tipo de inteligência Charles Darwin,Rachel Carson, John James Audubon, Thomas Henry Huxley.

Existencial

Investigada no terreno ainda do "possível", carece de maiores evidências. Abrange a capacidade de refletir e ponderar sobre questões fundamentais da existência. Seria característica de líderes espirituais e de pensadores filosóficos como por exemplo Jean-Paul Sartre, Søren A. Kierkegaard, Frida Kahlo, Alvin Ailey, Margaret Mead, Bento XVI e o Dalai Lama.

(fonte: wikipedia)
Ou seja, eu era uma criança que possuía mais desenvoltura nas inteligências Intrapessoal, brincava sozinha a maior parte do tempo, mas isso não me incomodava. Era tímida demais para fazer amizades. Corporal-sinestésica no que diz respeito a dança, basta olhar que aprendo muita coisa e ainda hoje se me esforçar um pouco consigo, ou se tiver um bom professor, sou capaz de "encarar" qualquer ritmo. O engraçado é que não era tímida para apresentações de dança, desde que não tivesse que falar, não me importava. E principalmente a Linguística, nunca precisei estudar para as provas de português, redação (como era chamada na época) era minha aula preferida, muitos recreios eram na biblioteca, ou na sala de aula, lendo.
E ainda temos a Inteligência Emocional, mas esta é assunto para um outro post exclusivo.
Para concluir só deixo aqui o recado para que as mães (e os pais) conheçam seus filhos. Cuidem da auto-estima deles, cada um é capaz de alcançar um grande sucesso, porém será o sucesso DELE. É o que a própria criança sonha e tem capacidade e talento para alcançar.
É comum a frase: Respeite pai e mãe! Mas pai e mãe também devem respeito à individualidade de cada um de seus filhos.
Para continuar lendo sobre o assunto indico outros posts:

Cristine Cabral

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Lidando com a morte...

Há mais ou menos 15 dias atrás minha filha havia me perguntado:
- Mãe, como as pessoas vão para o céu?
Pergunta foi despertada pelo fato de um tio-bisavô ter falecido aos 106 anos naquela semana. A minha explicação foi:
- Assim, quando as pessoas morrem a alma vai para o céu e o que fica é o corpo que a gente enterra. A alma é uma coisa que existe dentro da gente, mas que não dá pra ver, nem pra pegar. Deu pra entender?
- Não!
- Bem... é como o amor... ele não fica dentro da gente? Mas a gente não vê, nem pega, mas sente dentro da gente... deu pra entender agora?
- Humrum...

Dias depois dessa conversa que veio a falecer foi o meu pai. E quem teve que lidar com a morte fui eu... E não tem como falar em morte, sem falar em religião. A minha resposta à minha filha, foi a mais simples, a que encontrei que pudesse ser compreendida por quem tem 4 anos e vive em uma família de orientação católica. Mas no meu caso é diferente... sou cética e questionadora. A fé é algo que se tem ou não. Não existe mais ou menos fiel. 

Tive educação católica, estudei em escola de freira, mas muita coisa fica sem resposta, ou a resposta não me satisfaz. Fazendo uma comparação com a parábola do Semeador, eu digo que sou semente que caiu nos espinhos, até brotou, mas não dá frutos. No meu caso os espinhos não são os pecados, mas o que leio, estudo e que faz com que esteja sempre perguntando como? por que? isso é biologicamente possível? foram levados em consideração o contexto socio-econômico para que esta afirmação seja correta? Porém não sou semente que caiu nas pedras, ou que foi comida pelos pássaros, pois estes afirmam com certeza que Deus não existe. Também não tenho essa certeza, pois assim como não há provas que Ele existe, não é possível provar que não existe.

Um amigo escreveu há alguns meses depois de passar pela mesma situação que ele não havia "perdido" o pai, pois ele tem a certeza de que um dia irão se reencontrar. Feliz dele por ter esta certeza... Para mim, são só dúvidas. Mas isso não significa angústia, ou sofrimento. Não ter todas as respostas faz parte da vida...

O que mais me conforta é que independente de quem esteja certo, meu pai está melhor agora do que estava nos últimos meses. Se os espíritas estiverem certos, ele está em um lugar de luz e dentro de algum tempo terá uma nova vida, uma nova oportunidade. Se os evangélicos estiverem certos, ele está aguardando pelo juízo final num lugar onde não há dor nem sofrimento (Se eu estiver falando alguma bobagem, favor me corrijam nos cometários). Até mesmo se os ateus estiverem certos e não houver nada, ele não tem o céu, mas também não tem o desconforto da internação, dos aparelhos e procedimentos, nenhuma dor física, ou emocional... Se os católicos estiverem certos, ele está no céu, cercado daqueles que conheceu e já partiram e isto inclui o meu avô e minha avó (que não cheguei a conhecer nenhum). E esta seria a possibilidade que mais me confortaria...

Minha avó Suzete e meu pai Cabral
Meu pai foi uma pessoa muito admirada e amada, como professor, colega de trabalho, vizinho, esposo, pai, avô... mas tenho certeza que o maior amor que ele teve foi como filho. Até onde eu sei, minha avó sofreu várias perdas de bebês até conseguir ter o meu pai, o único filho, criado cercado de toda a atenção, de todo cuidado. E este filho tão amado, perdeu a mãe muito cedo, não sei ao certo, mas acho que foi algo próximo dos 20 anos... 

Quem tem fé tem certeza, eu tenho esperança... de que agora meu pai esteja nos braços da pessoa que mais o amou e que tiveram tão pouco tempo de convivência, mas que agora têm toda a eternidade para estarem juntos, falarem tudo que não tiveram tempo de falar e ele deve estar falando de cada um que deixou aqui e que ela não conheceu, começando pelos netos... e que eu um dia possa estar lá com eles e finalmente conhecer a minha avó.

Choro enquanto escrevo... mas esta tristeza vai passar daqui a pouco, pois acima da minha tristeza está a certeza de que ele está bem, esteja onde estiver. A tristeza vai passar, mas a lembrança não, nem a saudade. É possível sentir saudade e não sofrer...

E o melhor remédio contra a tristeza é a alegria... Alegria de ver minha filha saudável, assim como as outras pessoas da família, alegria de ter amigos presentes (mesmo que quilômetros, ou mesmo um oceano nos separe), alegria pelos bebês que acabaram de nascer e pelos que estão a caminho. 

Então se você me ver sorrindo não é por falta de amor ao meu pai, é por excesso de amor pela vida (minha e de quem eu amo).

Cristine Cabral

domingo, 26 de janeiro de 2014

"Livre estou, livre estou..."

Desde que assisti à mais recente animação da Disney estou encantada com Frozen. Principalmente com a personagem Elsa. Embora muita gente já tenha assistido, não vou comentar toda a trajetória da personagem, pois eu também não gosto nada de spoiler (detalhes que estragam as surpresas). Por isso vou fazer meus comentários tendo por base a letra da música tema (que só parei de escutar depois que aprendi toda a letra ;-) )

Livre Estou

A neve branca brilhando no chão
Sem pegadas pra seguir
Um reino de isolamento
E a rainha está aqui

Elsa não tem modelos de pessoas próximas a ela que tenham vivido situação semelhante para dizer como agir, o que deve fazer. Quantas pessoas não se enquadram nesse contexto? Mães solteiras, mulheres que resolvem não instituir família, gays, lésbicas e outros...?

A tempestade vem chegando e já não sei
Não consegui conter, bem que eu tentei
Não podem vir, não podem ver
Sempre a boa menina deve ser
Encobrir, não sentir
Nunca saberão
Mas agora vão

Por mais bem guardado que um segredo seja, eventualmente ele vem à tona. Mesmo que a família, os amigos, a "sociedade" diga que a pessoa "tem que ser", ela nunca será de fato, se aquilo não fizer parte da identidade dela. Um dia a máscara cai e com isso vem a tempestade de acusações, julgamentos e condenações.

Livre estou, livre estou
Não posso mais segurar
Livre estou, livre estou
Eu saí pra não voltar
Não me importa o que vão falar
Tempestade vem
O frio não vai mesmo me incomodar

Passado o susto a pessoa consegue perceber as vantagens de assumir ser o que é. O "frio" no olhar de julgamento dos outros não vai incomodar, pois ele sempre esteve presente, mesmo que com o foco desviado para outra "vítima", ou por meio de uma aceitação falsa, pois a pessoa sabe que não merece aquela aprovação por algo que é fingido.

De longe tudo muda
Parece ser bem menor
Os medos que me controlavam
Não vejo ao meu redor
É hora de experimentar
Os meus limites vou testar
A liberdade veio enfim
Pra mim

O medo das consequências aversivas, é sempre muito maior que elas de fato. Só quem já experimentou uma liberdade pós-prisão (física, emocional, ou psicológica) sabe de verdade o que é isso (eu sei)... O tom da música nesse trecho se eleva de tal forma que me elevei junto. Viva a liberdade!

Livre estou, livre estou
Com o céu e o vento andar
Livre estou, livre estou
Não vão me ver chorar
Aqui estou eu
E vou ficar
Tempestade vem
O meu poder envolve o ar e vai ao chão
Da minha alma flui em fractais de gelo em profusão
Um pensamento se transforma em cristais
Não vou me arrepender do que ficou pra trás

Sair da zona de conforto é arriscado, dá medo, mas quando a pessoa realmente vivencia a autenticidade percebe que o que ficou pra trás deixou lições, porém não há porque se arrepender.

Livre estou, livre estou
Com o Sol vou me levantar
Livre estou, livre estou
É tempo de mudar
Aqui estou eu
Vendo a luz brilhar
Tempestade vem
O frio não vai mesmo me incomodar

E sempre é tempo de mudar, gritar aos sete ventos quem você é de fato. 

Estou absolutamente apaixonada. Os autores da Disney sempre atualizam sua visão social dos personagens, não sei até que ponto de forma proposital, ou é apenas um reflexo das mudanças.

A Elsa encontra a felicidade na liberdade, mesmo estando sozinha em um palácio de gelo. Mas um palácio que ela mesma construiu, ela não precisou de fada madrinha, ou príncipe. A força e a magia sempre esteve com ela.

Claro que a tempestade não afeta apenas a pessoa em fase de mudança, a família e as pessoas mais próximas também são afetadas.
(Se você odeia de verdade todo tipo de spoiler, pare de ler agora. heheheh Mas se um cometário superficial não lhe incomoda, continue)
Elsa também teve maturidade suficiente para voltar e tentar minimizar as consequências e só então descobrir que o amor é a resposta para qualquer dificuldade.

Por isso mães (e pais) procurem conhecer de fato os seus filhos, deixem SUAS expectativas e sonhos de lado, para poder enxergar a força e a magia exclusiva de cada indivíduo. A resposta que os pais da Elsa encontraram para o problema foi o isolamento, o medo e a super-proteção. No entanto a chave do problema era o amor e a aceitação incondicional. 

Amem!

Cristine Cabral