terça-feira, 21 de maio de 2013

Mentira tem perna curta.

E aos 3 anos e meio, mais curta ainda.

Semana passada a Dine mentiu pela primeira vez. Mas antes de falar mais sobre o episódio gostaria de fazer algumas considerações.

Minha filha é uma menina cheia de imaginação. Por ser filha única passa muito tempo brincando sozinha, mas não para de falar um minuto. Quem a conhece pessoalmente pode até se admirar, pois é muito tímida com outras pessoas, mas em casa é uma tagarela. Toda hora é uma história diferente, é mãe das bonecas, ou professora. As vezes vira a Mônica e passa correndo pela casa gritando "Volta aqui seu moleque." Agitando alguma coisa, como se fosse o Sansão.

As vezes quando peço pra ela fazer alguma coisa e ela responde: "Já fiz." e eu "Como é que é?!", e ela "Hahaha, estou brincando mamãe."

As duas situações anteriores não considero mentira. Mas como saber a diferença? Pelo objetivo. Na primeira situação a imaginação está trabalhando e isto é muito importante para o desenvolvimento cognitivo, emocional, etc. No segundo exemplo o objetivo não é me enganar e sim fazer uma graça. Só algo para nos fazer rir.

O episódio da semana passada foi algo deliberado, ela contou para a professora que EU tinha dito que ela não podia tomar banho na escola, pois estava tossindo. A professora acreditou piamente, pois minha pequena é conhecida como "boa de recado". Primeiro, ela não estava tossindo coisa nenhuma, segundo que quando está assim tão mal a ponto de não poder tomar um banho na escola, eu nem deixo que ela vá. Resumindo: ela não queria fazer algo e para escapar resolveu contar uma mentira. Ou seja, o objetivo era sim enganar a professora.

Algumas pessoas podem estar pensando: "Ah, mas um banho não é grande coisa... Isso dá pra deixar passar." Não! Não dá para deixar passar não! Pois nessa idade o pensamento ainda não é capaz de perceber os nuances do comportamento moral. Para as crianças pequenas as regras devem ser claras e bem definidas e não baseadas no "depende". 

Eu, particularmente, tenho total aversão a qualquer tipo de mentira, mesmo as socialmente aceitas como
quando alguém pergunta uma opinião sobre o novo corte de cabelo. Caso não seja do meu agrado, prefiro dizer algo como: "Não é bem do meu estilo. Mas se você ficou feliz, então está ótimo." E principalmente se minha opinião não foi pedida, ficou quieta, também não preciso ser deliberadamente desagradável, ou inconveniente. Mesmo por que gosto é algo pessoal e não se discute.   

Não quero dizer que sou santa, nem que sou um livro aberto. Muitas coisas eu omito, pois é um direito meu. Outras eu posso estar enganada, passar uma informação que no momento acredito ser verdadeira, mas que pode não ser bem assim. E muitas, muitas, muitas vezes a verdade não é um fato, é só uma questão de opinião, de ponto de vista. Duas ou mais versões podem ser verdadeiras, dependendo de quem conta e do que se sente. Mas inventar ou manipular uma informação para obter um benefício próprio, considero desonestidade. E disso o Brasil está cheio, em todos os nuances possíveis.

Nossa sociedade tem muitos tons de cinza (nenhuma menção ao livro (risos) que por sinal ainda não li) no que diz respeito ao que é honestidade... Quando se fala em gente desonesta se vem logo à mente os políticos que sonegam impostos, os estelionatários que aplicam golpes, pois aí se fala em grandes quantias. E quando o troco vem a mais e a pessoa percebe, mas não devolve ao caixa? E quando a pessoa pede para aquele amigo que trabalha no local para dar uma "ajudinha para agilizar" e passar na frente dos outros?

Meu objetivo como mãe é criar uma filha com valores morais adequados e EU tenho que ser o maior exemplo dela. Nas menores coisas como jogar o lixo no lixeiro, ou como, quando estiver dirigindo em um engarrafamento, não fechar um cruzamento (mesmo que o apressadinho de traz morra de buzinar), se pode ensinar muito sobre cidadania, direito individual e coletivo, leis e regras sociais e morais.

Educação é mais que conteúdo que a escola passa, é mais do que aprender a falar inglês antes dos 15 anos de idade. Educar é criar cidadãos. É orientar adequadamente as pessoas que daqui a uns anos serão os nossos médicos, engenheiros, políticos, etc. 

A frase da imagem abaixo resume o meu objetivo geral no post de hoje.












Cristine Cabral 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Para Vanessa com Carinho

Hoje resolvi fazer uma postagem extra para homenagear uma amiga muito querida que me emocionou muito com a postagem Para Cristine com Carinho.

Essa amiga querida faz aniversário hoje e não posso dar-lhe um abraço pessoalmente visto que mais de 2.500 km nos separam. E acho que aqui é um local adequado, pois sem ela não seria a profissional que sou.

Nos conhecemos no meu primeiro estágio na área organizacional e lá comecei a tê-la como referência. Foi ela que me explicou pela primeira vez  que é reforço e punição.

Estávamos num intervalo entre uma aula e outra comendo pipoca de chocolate e conversando sobre Análise do Comportamento que até então não tinha a menor noção. Olhando para as fontes frente a Centro de Convivência perguntei-lhe por que eu sentia vontade de pisar descalça nelas. E ela me respondeu com outra pergunta:

- O que de bom teria em fazer isso?
- A sensação de sentir a força da água contra os meus pés.
- E porque não faz isso?
- Por que iria chamar muita atenção. O povo iria achar que eu sou doida.
- Então: a sensação que você imagina é um reforço positivo. E você não faz devido a punição social.

Neste dia me nasceu uma behaviorista. :)

Claro que as palavras não foram exatamente essas, mas a ideia geral foi bem assim. Só tenho muito a agradecer à minha grande amiga que sempre esteve perto, mesmo quando longe. Sempre é uma referência profissional, mesmo agora que estamos em áreas diferentes de atuação. Ela é a minha mestra, em breve, com direito a título de fato.


A Vanessa é uma pessoa amável, uma batalhadora que não desiste do que deseja, mas que sabe abrir mão quando se faz necessário, sem traumas ou ressentimentos. É o exemplo de pessoa que tem a sabedoria de diferenciar as lutas que valem a pena e o que é pura perda de tempo. Tem uma paciência (quase) sem limites e nunca a vi perder a classe. Mesmo quando seu mundo estava prestes a desabar.
Confesso que tenho inveja da capacidade dela de ouvir música enquanto estuda e escreve e que já tive ciúmes do G7 (risos).

Amiga, te desejo tudo de muito bom e que sua nova vida de moradora de cidade do interior te traga toda a paz que você merece. Que consiga alcançar seu sucesso profissional e continue sendo minha fonte de inspiração. E quem sabe daqui a algum tempo você não se junte a nós aqui e seja também uma PsicoMãe?!
Sem pressão viu?! (risos)

Toda felicidade do mundo pra você.!!!!!

Com muito carinho e amor,
Cristine Cabral


terça-feira, 14 de maio de 2013

Mamãe, eu quero...

Antes fosse mamar... Atividade que cumpria com o maior prazer, uma das melhores sensações que já tive na vida.

Agora, aos 3 anos e meio, tudo que vê quer. E olha que ela praticamente não é exposta a comerciais infantis. O canal que ela passa mais tempo assistindo é a TV Cultura, pois não tenho tv a cabo e neste canal passa as animações preferidas por ela. (Peixonalta, Dora Aventureira, Cocoricó, Sid, o Cientista). O programa que assistimos é o Quintal da Cultura, onde os apresentadores nunca aparecem com "recadinhos" no meio do programa e estão ajudando até a diminuir o medo dela por palhaços.

Mas meu objetivo hoje não é falar sobre mídia, ou consumo e sim de individualidade.

 Mesmo não tendo tanto acesso às campanhas publicitárias, ela tem várias amiguinhas e sempre aparece frases como: "A Maria e a Lara fazem balé." "A Jamile tem uma Baby Alive." A Bruna teve um aniversário de princesa." Minha resposta para todas as frases desse tipo é sempre a mesma: "Sua amiguinha é uma pessoa diferente de você, que tem uma mãe diferente, uma família diferente." Claro que com um tom de voz bem maternal.

Alguém pode está pensando, mas assim ela não vai ficar excluída? O que pretendo é ensinar a diferença entre individualidade e individualismo. Evitar a regra do "todo mundo..."

Muitas mães de adolescentes detestam quando os filhos vêm pedir para fazer ou ter algo com o argumento do "Mas todo mundo vai (ou já tem)." Porém o que poucas lembram é que a é que a lei do "todo mundo" foi introjetada nos primeiro anos de vida com frases: "Senta menino, não está vendo que está todo mundo sentado?!" ou "Deixa de choro. Vocês está vendo algum amiguinho chorando?" O ideal seria dizer: "Sente-se que assim a gente consegue ver melhor o que está acontecendo e sem incomodar as pessoas." ou "Qual o motivo para tanto choro?" Ou seja, passar valores sociais como respeito às pessoas em volta, ou atenção particular ao que se passa com a criança naquela situação.

Cada pessoa é um ser único, cheio de qualidade e também de pontos que precisam ser melhorados. (Não gosto de usar o termo "defeito", parece algo que está quebrado e sem conserto, ou algo mal feito) Cada um com seus gostos, valores e preferências.

Se ensinamos nossos filhos que eles têm direito à individualidade, também estamos ensinando a respeitar a individualidade dos outros. 

As crianças naturalmente fazem amizades em questão de poucos minutos e normalmente não reparam nas diferenças sociais, ou físicas. Sua aceitação é incondicional. Mas esta, com o passar do tempo, vai sendo extinta. Os adultos antes de qualquer contato social, meio que avaliam o outro por meio de suas roupas, comportamento, deficiências, etc. É preciso conseguir identificar algo em comum com a outra pessoa para saber se "vale a pena" o contato, algum tipo de interesse. Assim muitas pessoas vivem numa eterna corrida para se tornarem "interessantes", uma eterna busca por status, para que o seu devido "valor" seja reconhecido pelos outros à sua volta.

Não preciso temer que a minha filha seja excluída por não ter os mesmos brinquedos. Pelo menos não nesta fase da vida dela. Até valorizo a questão da diversidade de brinquedos, pois se uma tem os que ela não tem e ela tem o que as outras não tem, juntando, a diversidade é bem maior e todas têm mais acesso a brinquedos diferentes. E ainda ensinamos a importância de compartilhar.

Quero ensinar a minha filha a importância do SER... ser amiga, ser gentil, ser disponível a ajudar e assim conseguir TER o que é mais importante: ter amigos fieis e desinteressados, ter respeito a todas as diferenças, ter uma vida feliz de fato. Uma felicidade que independe das coisas, uma felicidade verdadeira. Pois como já dizia Carlos Drummond de Andrade:

"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade"

Cristine Cabral