terça-feira, 30 de abril de 2013

Não subestime



No facebook frequento alguns grupos de mães. São espaços onde dúvidas, experiências, medos são compartilhados e retirei dois posts de um deles (com autorização das autoras, desde que resguardado sigilo) para falar sobre o tema de hoje: Educação Emocional.

"Tenho um cachorro de 15 anos que esta com cancer fase terminal, hoje ele piorou bastante estou dando um remedio mas a veterinaria falou em eutanasia (...) Minha filha tem 2 anos e 3 meses pode até parecer doideira mas ela é muito esperta, sente falta dele ate quando ele esta no banho ou no veterinario em consulta, quando perdemos nossa gatinha ela teve febre, acordava a noite chamando-a, até que ganhou outra gatinha, e melhorou na hora, tenho medo dela ficar ruim sabe, como posso falar com ela sobre isso? Me ajuda, minha filha não vai perguntar 1 vez por ele e depois esquecer, e mesmo eu distraindo ela volta no assunto pq com a gatinha foi assim."


"Tenho um bb de 2 ano 3 meses q não frequenta escola. Desde q engravidei virei mãe 24 horas. Meu filho é hiper,super mega grudado em mim. Resolvi q preciso trabalhar para colocar um projetos engavetados em prática, ajudar em casa, enfim melhorar de vida! Meu plano inicial é trabalhar das 16h as 3 da manhã, já q tenho "facilidade" d ficar acordada até tarde e acordar cedo. Assim tbm na parte da manhã ficaria com meu filho. Não penso em colocar ele na escola no momento. Então minha mãe ficaria com meu filho em casa das 16h as 19h (hora q meu esposo chega do serviço). Assim ele teria sempre a presença materna ou paterna por perto. Meu marido é super pai cuida bem do nosso filho. Ele q dá mamadeira, banho e coloca para dormir todos os dias. Mas a minha preocupação é: bom vou ser sincera não estou preparada para deixar meu filho essa é a real. Mas fico pensando se não for agora q tenho essa oportunidade será quando??? (...) como preparar meu filho para minha ausencia? Já conversei com ele:"M... a mamãe pode sair para trabalhar?" Ele: "não, fico triste!" Nem preciso falar q "mata" meu coração! (...) Sei q no começo vai ser um pouco complicado... mas como não ser tão desgastante para ambos? (...) To sofrendo com uma coisa q no futuro sei q será banal, mas agora esta doendo."

As duas dúvidas são bem comuns e os assuntos são bem delicados: morte e volta ao trabalho.

Minha intensão aqui não é responder e sim dar exemplos, pois as respostas dadas a estas mães foram específicas para elas e não são receita, pois cada caso é um caso. Mas resolvi tomar como exemplo. 

Precisamos antes, entendermos um pouco sobre o desenvolvimento de uma criança de 2 anos de idade.

Aos 2 anos a criança já tem grande capacidade de entendimento da comunicação oral. Excerto questões mais abstratas, ou muito fora da realidade dela. Mesmo que a criança não fale muito, ela já entende quase tudo. Vamos lembrar que por volta dos 6 meses se brinca de "Cadê o bebê?", então essa brincadeira já demonstra que é capaz de entender que o bebê é ele, que ele é capaz de se esconder, que o seu comportamento tem influência direta no comportamento dos adultos. Se com 1 ano já é capaz de organizar frases simples como "Quero água.", consegue reconhecer e nomear uma infinidade de parentes, brinquedos e personagens, consegue acompanhar e se divertir com histórias curtas, aos 2 anos é absolutamente capaz de perceber as alterações na rotina, no comportamento dos adultos. A criança percebe, mas não entende. Cabe aos adultos explicarem o que está acontecendo.

Assim não é de se admirar que a filha da 1ª mãe tenha percebido a ausência do cachorro e queira saber o que aconteceu. E quanto mais sincera for a conversa, mais a criança vai aprender para lidar com situações futuras. A morte faz parte da vida. A plantinha nasce e morre, assim como os bichinhos e as pessoas. 

No caso da 2ª mãe, o comportamento da criança provavelmente é um reflexo da insegurança da mãe com relação à volta ao trabalho. Ela mesma reconheceu quando disse: "bom vou ser sincera não estou preparada para deixar meu filho essa é a real." E este sentimento não é exclusividade dela. Todas passam por isso. Seja aos 4 ou 6 meses de idade, como a maioria, ou aos 2 anos. A dificuldade se torna maior, pois como mais tempo se passou mais difícil é mudar o comportamento. Mas difícil não quer dizer impossível. E quanto mais tempo passar, mais difícil será... para os dois, filho e mãe. Aos 5 anos por exemplo a criança pode até ser capaz de simular doenças, ou fazer chantagem emocional, fora as birras de praxe para manter a mãe por perto.

O que os dois depoimentos têm em comum, além da idade das crianças é o fato de que as mães estavam projetando os próprios sentimentos para as crianças. Imaginando que eles sentiriam exatamente o que elas estavam sentindo. E que não seriam capazes de lidar com estes sentimentos. 


Não subestime seu filho. As crianças são capazes de grandes feitos, desde que os adultos consigam dar oportunidade e suporte. Por que também não é só jogar a notícia. "O cachorro morreu e não volta mais." ou "Vou voltar a trabalhar e ponto final". É necessário que a situação seja explicada numa linguagem simples. E que os adultos estejam preparados para dar o suporte necessário, seja o luto pelo bichinho, ou a adaptação à nova rotina.

Sentimentos difíceis fazem parte da vida e quanto mais cedo aprendemos a lidar com eles mais fácil será lidar com as perdas e dificuldades futuras, provavelmente, bem maiores que estas.

Cristine Cabral

Para ler mais sobre o assunto, sugiro o post "Ouwnnn... o 'bichinho'..."


Nenhum comentário:

Postar um comentário