sexta-feira, 29 de março de 2013

Se Deus quiser!


Tenho pensado já a um tempo em falar sobre religião apesar de considerar um assunto extremamente pessoal e delicado. Não quero ferir suscetibilidades e quero que fique claro que estou falando sobre o que EU sinto em relação a religião.

Meus pais são católicos e minha mãe é muito religiosa. Estudei em um colégio de freiras, mas desde cedo eu questionava muito os dogmas, os deveres...e os pecados. E lembro que quando adolescente não conseguia encontrar sentido em fazer uma confissão a um padre.

Cresci e aprendi a respeitar as escolhas dos outros e por curiosidade e até mesmo por busca pessoal conheci outras religiões... renovação carismática, espiritismo, budismo, umbanda...durante um período procurei explicação para muitas perguntas e na realidade nunca consegui encontrar as respostas que procurava. Consequentemente não encontrei uma religião com a qual eu me identificasse. Até que resolvi parar.

Hoje quando me perguntam que religião eu sigo, apenas digo que não tenho religião. Não quero com isso ser esquisita ou chocar os outros... apenas não fui "tocada" ou digamos "conquistada" por nenhuma.
Quando digo que não sou esquisita é porque consigo entrar em uma igreja, já fui várias vezes com minha mãe a Fátima, aqui em Portugal e acho tudo muito bonito, mas realmente não sigo.
É tanto que nunca sonhei em casar na Igreja e por isso só casei no civil, não faria algo só porque "todos" fazem, ou só para ficar bonito, isso sim seria agir de maneira inadequada.

Minha filha tem 4 anos e pensamos em batizá-la...depois da dúvida as coisas acabaram por não acontecer como queríamos e acabamos por desistir. Conversei com alguns colegas e descobri muitos adultos que não foram batizados e são boas pessoas e estão bem... Como sou prática e não gosto de remoer muito um assunto decidi que minha filha vai escolher se quer ser batizada como também quem serão os padrinhos para o seu batismo. Tenho mais dois irmãos e nenhum de nós teve sorte com os padrinhos (risos). Por isso...

Ainda tenho muita perguntas para encontrar a resposta e realmente fico admirada com o mundo em minha volta e o que conseguimos fazer com ele, mas também questiono os comportamentos religiosos onde as pessoas pregam uma coisa e fazem outra. Tenho visto ultimamente tanta ostentação e tanta esbanjamento que achei super interessante termos um Papa Franciscano, isso sim, está bem enquadrado. Acho que as pessoas deviam pensar um pouco mais no que andam a falar e fazer...vamos agir bem em vez de falar...  

Como pode em pleno século XXI tantas pessoas morrerem de fome??? E outras sociedades com sérios problemas de obesidade??? Preconceito, maus-tratos, violência... aberrações... e tanta morte em nome de religiões?!?!?

Daí que as vezes quando escuto a frase "Se Deus quiser", sempre penso... as coisas não dependem só de Deus, preciso fazer algo. Concordo que a fé para os que acreditem tem muita força, pois favorece o bem-estar e torna as pessoas mais otimistas, mas colocar a responsabilidade de tudo nas mãos de Deus é muito!

É Páscoa! Momento de partilha e convívio com a família... o que vemos? Muito apelo ao consumo e excessos ...será esse o verdadeiro sentido da Páscoa? A gula não é um pecado?



Saudações de terras lusas...

Uma Páscoa consciente!


Taciana Ferreira






terça-feira, 26 de março de 2013

Contar ou não contar?

Seguindo com o tema adoção.

A pessoa que nos mandou essa sugestão de tema, nos perguntou qual a hora certa de contar e como contar. 

Acredito que quanto mais cedo a criança souber melhor, principalmente para que não fique aquela sensação de que os pais passaram a vida inteira mentindo. A mágoa muitas vezes é mais pelo sentimento de ter sido enganado, do que propriamente o fato de ser adotado.

O "como" pode ser ajudado pela fantasia. Exemplo:


"Era uma vez uma moça que se sentia muito sozinha e então um dia uma fada madrinha trouxe para ela o melhor presente do mundo, o bebezinho mais lindo de todos..."
ou
"(a mesma moça, ou um casal) certa vez foram passear num jardim cheio de lindas crianças e eles escolheram a mais linda de todas para poder dar muito amor..."

Quanto mais próximo da realidade melhor, pois a proporção que a criança for crescendo e tendo curiosidade sobre sua história e as perguntas forem surgindo, mais "fácil" ficará para os pais contar os detalhes e para a criança fica melhor de transformar a fantasia em realidade.

Ressalto um fator de muita importância: se qualquer mãe deve ficar atenta aos comportamentos e sentimentos de um filho, a mãe de uma criança adotada deve estar mais presente ainda, conversar sempre com sinceridade sobre todos os assuntos inclusive a própria adoção. Só conversando muito se pode saber como a criança se sente com relação a este tema.

O ideal é que seja um assunto "normal" sem muitos melindres, ou medo de traumas. Lembrando que proteção demais as vezes é mais prejudicial para o desenvolvimento emocional, como já comentei na postagem "Ouwn, o bichinho..."

Certa vez soube da história de duas irmãs adotadas e uma delas havia se suicidado. E o comentário seguinte foi: "Mas a mãe nunca fez diferença entre elas. Tudo que fez pra uma fez pra outra"

Primeiro: mãe não tem culpa de tudo que acontece com os filhos, principalmente no que diz respeito a forma como eles se sentem. A mãe pode sim ser próxima, companheira, mas o comportamentos e sentimentos dos filhos dizem respeito a eles mesmos. Principalmente depois de adultos.

Segundo: o que levou a moça ao suicídio foi a depressão. A de verdade. Aquela patológica que precisa de medicação e acompanhamento terapêutico. Nenhum problema por si só leva uma pessoa ao suicídio. Se fosse uma relação de causa e efeito todos que passassem por isso encontrariam a mesma "solução".

Terceiro: a moça poderia ter problemas dos mais diversos e variados. Não necessariamente foi algo relacionado à adoção, ou a mãe... 

Outra pergunta que nossa leitora fez é se a escola deve ficar sabendo. Bom, depende. Se for um assunto tratado com naturalidade, provavelmente o assunto vai acabar sendo comentado. Se a criança for muito diferente fisicamente dos pais ou irmãos (não gosto de falar em raça, para mim quem tem raça é cachorrinho. Somos todos da raça HUMANA!) é só mesmo uma questão de confirmação de algo que já está constatado. 


Famosos, mesmo com filhos biológicos, estão dando este exemplo. Antigamente a adoção era um  tabu, comentado por julgadores maldosos como meio que a solução de uma "incompetência" biológica, ou por que "foi o jeito" por que as crianças eram colocadas nas portas. Infelizmente existe gente assim, independentemente do tema, vide o post "Inocentemente" indelicada Hoje, felizmente, é visto mais como um ato de amor do que qualquer outra coisa.

E se foi por amor, por que esconder?

Uma criança adotada não é uma "coitadinha" que foi abandonada pela mãe, é uma felizarda de ter encontrado uma mãe, um lar, uma família e muito amor.

Cristine Cabral

segunda-feira, 18 de março de 2013

Filho do Coração

Uma de nossas leitoras sugeriu que falássemos sobre adoção. E fez algumas questões, mas antes de responder especificamente, preferi falar um pouco para as pessoas que ainda estão pensando sobre o assunto. Na próxima semana falo sobre outras questões relacionadas ao assunto.

Primeiro gostaria de dizer que acho o gesto de adotar uma criança um ato nobre, mas que por isso deve ser tomado com muita cautela. Antes de dar entrada nos papeis para realizar uma adoção nos conformes da lei é essencial que saiba responder a seguinte questão: Por que você quer adotar?

Cuidado se a resposta for parecida com qualquer uma das seguintes:
- Para finalmente me sentir feliz.
- Para ter uma pessoa que sempre estará do meu lado.
- Para poder ter um filho e não "estragar" meu corpo.
- Por que toda mulher tem que ser mãe.


Não vou discorrer sobre cada uma, mas alerto que as duas primeiras podem ser referir também aos filhos "paridos". Ninguém merece nascer tendo como "carga" a função de fazer uma outra pessoa feliz. Não devemos atrelar a nossa felicidade a nada exterior a nos mesmas, nem filho, nem trabalho, nem cônjuge. Seja feliz com você mesma, depois você pode somar, dividir, multiplicar essa felicidade a de outras pessoas.


Outro alerta. Não pense na "maldição do sangue". Quando os filhos apresentam mau comportamento é comum ouvir mães dizerem: "Ele puxou isso do pai." E no caso dos adotados a "culpa" vai para o sangue. Certa vez assistir um realit show de educação infantil que um menino de 4 anos cresceu ouvindo que ele "tinha sangue ruim", ao ponto de ver na tv algo sobre transfusão de sangue e foi pedir para a mãe: "Vamos lá, mãe. Nesse lugar você vai poder trocar o meu sangue e vou ficar um menino bom." Fiquei de coração partido.

Não nego que existam predisposições genéticas, mas estas só se manifestam se encontram ambiente propício para isso.

Os comportamentos das crianças são reflexo da educação que recebem. Alguns obedecem regras e limites mais facilmente do que outras, mas cabe aos pais ter paciência e amor suficiente para impor limites, transmitir valores e ter comportamento adequado que seja uma boa referência. Sejam pais biológicos, ou adotados.

Cuidado com muitas expectativas. Toda criança é um ser único, que tem sua própria personalidade, tem o direto de escolher seu próprio caminho, não tem a obrigação de seguir o caminho que os pais traçaram, seja qual for a forma em que passou a pertencer a família. Uma mãe que gesta um filho, não tem como escolher a cor dos cabelos, dos olhos, da pele, com quem vai parecer e ela o ama seja como for, inclusive se tiver alguma deficiência física ou mental. Abra seu coração e, se for o caso, não vá "escolher" seu filho, permita-se ser escolhida. 

Agora se você concordou com tudo que disse, se sente madura e preparada para ser mãe, se tem amor e felicidade suficiente para você e uma (ou mais) pessoas... se chegou nesse ponto do texto pensando "ai como eu queria ser mãe, pena que não tenho dinheiro suficiente para isso." Peço que repense. Lembre-se que dar um lar a uma criança que não tem e dar tudo o que nem todo o dinheiro do mundo pode comprar: amor de mãe. Claro que dificuldades financeiras sempre complicam, mas se souber educar bem a sua criança, esta saberá reconhecer que mesmo que o material falte alguma coisa o lado sentimental, emocional, psicológico, social compensará e valerá mais do que uma vida em uma instituição, na qual mesmo que tenha sido muito feliz lá, aos 18 anos o vínculo é necessariamente quebrado.

Se for algo que pretende considerar, pense, pense muito e quando tiver certeza, pense mais uma vez. Pois imagine como se sente uma criança que é devolvida. Como é ser rejeitada mais de uma vez... 

Cristine Cabral

sexta-feira, 15 de março de 2013

Mamãe posso dormir na tua cama?


Desde que voltamos do Brasil no fim de Dezembro tem sido difícil fazer a Eduarda dormir sozinha no quarto dela. Vários motivos contribuíram para que isso acontecesse. Primeiro o frio, afinal estávamos no Brasil com 30 a 35 graus todos os dias e aqui em Portugal em pleno inverno. Apesar de ter aquecimento a sensação de cama fria não passa. Depois ela ficou doente e por comodidade e segurança ficou com a gente no quarto. Pouco tempo depois ficou doente novamente...Passado alguns dias e depois de ter conseguido fazê-la voltar a dormir no próprio quarto, agora tem sido difícil ela conseguir adormecer sozinha na cama dela. Ela pede sempre com aquela carinha linda, com aquela voz meiga e doce: - Mamãe podes ficar até eu adormecer? Nessa hora o lado materno bate e a psicologa fica de "lado". Apesar de saber que é importante que ela aprenda adormecer sozinha...

São muitos fatores que influenciam a hora de dormir. A Eduarda é uma criança muito ativa, se nós ficarmos acordados até tarde e deixar ela também fica. Rara vezes que ela adormeceu no sofá, ou sozinha antes nós por estar cansada. Ela acompanha o ritmo mesmo quando saímos para jantar fora, alguma diversão noturna ela tem o nosso pique, ou até mais!
Crio a rotina diária (importante para todos) antes dela ir para cama, como o jantar, tomar banho, escovar os dentes, ler historinha (que acabam por ser várias) e mesmo assim ela só dorme depois de muito tempo. Já aconteceu tanto comigo como com o meu marido de dormirmos primeiro que ela (risos). 

Pois é! De fato não é tão fora do comum ter uma filha com uma "síndrome de inquietação noturna", "Mãe quero água, outra história, quero aquele boneco"...e por ai vai. Afinal o ir para cama e dormir significa o fim de um dia divertido. Sendo assim é mais comum haver resistência do que se imagina.
Cada idade assinala novas descobertas e experiências, as crianças entre o um e dois anos e meio resistem ir para a cama por não quererem se separar dos pais. Do ano e meio aos três começam a preocupar-se com o que pode acontecer aos pais, surgem os medos... e dos quatro aos seis os medos ganham nomes, formatos e cores. O escuro, as sombras e os pesadelos...a imaginação ganha asas...

Então o que fazer!?! Aqui vão algumas dicas para a hora de dormir.

- Estabelecer uma hora de ir para a cama: É importante que a hora seja adequada a idade e as necessidades de sono da criança. Mostrar a ela a hora de dormir e se ela não souber identificar a hora no relógio, faça o desenho de um relógio a indica a hora estipulada para dormir. É preciso perceber o tempo da criança, algumas precisam dormir mais e outras não. Levar a criança para a cama cedo demais também pode levar a relutância.

- Criar uma rotina de fim do dia: Assim como referi acima, dar o banho, ler histórias...uma rotina relaxante, ouvir música, umas bolachas e caminha. Evitar brincadeiras turbulentas, programas assustadores....comidas e bebidas com cafeína.

- Fazer um aviso prévio: Avisar, "Daqui a dez minutos, são horas de ir para a cama". O anúncio súbito " Já são horas de ir para a cama!", é um convite a resistência! 

- Ser firme e ignorar a resistência: Essa é a parte mais difícil para os pais inclusive para mim. Depois de pô-los na cama, anunciar que vai dar o beijo e que o dia chegou ao fim em seguida sair do quarto! Preciso praticar mais vezes, pois a Duda tem resistido e pede para eu ficar. É uma questão de insistir pois antes ela ficava.

- Fazer um check-in: Caso as crianças insistam em chamar pelos pais experimente entrar em acordo com eles: se eles não chamarem passados 10 minutos você vai lá para ver se está tudo bem. Atenção! Têm que cumprir a promessa.

- Luzes noturnas: Algumas crianças gostam de alguma iluminação no quarto pois traz alguma conforto.

- Estabeleça um programa de reforços: Carimbos, adesivos no outro dia. Elogiá-los de manhã por terem ficado a noite toda na cama.

- Leve o seu filho para o quarto novamente: Se a criança sai do quarto, o melhor é pegá-la na mão e levá-la de volta para o quarto. Se a criança tiver mais de 4 anos explique que se ela voltar a fazer isso irá ter um tempo de pausa (3 minutos). Acabado o tempo leve-a novamente para a cama. Em investigações realizadas sobre o "tempo de pausa" demonstram que com a utilização consistente do tempo de pausa a maioria das crianças aprende a permanecer na cama.

E finalmente, nossos filhos precisam perceber que temos espaços conjuntos e espaços individuais, que precisam e devem ser respeitados. Por este motivo os pais não devem permitir às crianças invadir a sua privacidade. Sim, precisamos apoiar nossos filhos, estar sempre presentes em suas vidas, protegê-los, fazer com se sintam amados, mas isso não significa que devemos anular a nossa vida em função deles. Por isso a procura do equilíbrio e bem estar é o nosso lema. 


Antes de ser Psicóloga sou mãe, mas sei que preciso resistir aos pedidos da minha pequena (risos). Pela minha privacidade e pela autonomia e desenvolvimento saudável dela..dentre outros...

Então, quem resiste ao, "Mamãe posso dormir na tua cama?". 

Saudações de terras lusas...primavera quase chegando!

 Bom fim-de-semana!

Taciana Ferreira


terça-feira, 12 de março de 2013

Olhando para dentro


Eu trabalho com a abordagem Análise do Comportamento, que tem uma visão focal e tem base pragmática. O que leva a algumas pessoas de outras áreas a dizer que é uma abordagem fria e que não leva em consideração os sentimentos. O que não é verdade. Tanto não é que em algumas questões começamos pela identificação do que é que é sentido pela pessoa. Muitas vezes o trabalho começa por aí.


E você sabe o que sente?

Você consegue saber a diferença entre saudade, solidão, melancolia, angústia e tristeza? Muita gente denomina tudo isso, ou uma parte disso, de depressão. Caso o profissional não tenha a devida atenção de detalhar o que seja exatamente o que a pessoa sente, esta pode sair com uma receita de um anti-depressivo. 

Pode ser que na verdade o que a pessoa está sentindo é uma saudade de uma realidade que se foi e que trazia sentimentos maravilhosos e que não estão mais presentes. É uma tristeza pelo que se foi, mas que não impede da pessoa reconhecer as coisas boas do presente, só precisa focar.

Claro que existem os casos reais de depressão e que precisam sim de medicação. O que chamo atenção é para um diagnóstico feito às pressas. Ou as vezes quem tem pressa é o cliente. Quer só um remédio que o ajude a dormir (ou acordar, ou para as duas coisas) para que continue sua rotina no "automático", que não tenha que "perder tempo" cuidando "dessas coisas".

A saudade em si, não necessariamente é algo ruim. Já cantava Luiz Gonzaga: 

"Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu"


Precisamos reconhecer o que sentimos para que possamos avaliar melhor o que provoca tais sentimentos e qual a melhor forma de agir em cada situação. Principalmente nas situações que trazem sentimentos desagradáveis que são bem mais marcantes. Biologicamente registramos com muito mais facilidade as situações ruins do que as boas.


Imagine que você diariamente, por anos e anos, passou por uma rua florida, cheirosa, com pessoas simpáticas, sempre com música alegre tocando. Só de lembrar (ou mesmo imaginar) isso trás uma sensação de bem estar. Agora o que aconteceria se você for assaltada? E se o assaltante tenha sido extremamente violento e ameaçador? Na próxima vez que chegar na esquina da dia rua, antes mesmo de visualizar qualquer coisa, que sensação virá?


Então, bastou um episódio desagradável para "apagar" inúmeros deles agradáveis.

E as vezes acontece do sentimento voltar de uma forma que numa visão superficial parece inexplicável. Digamos que no seu trabalho tenha as mesmas plantas que a rua em que foi assaltada e assim que chega ao trabalho volta a sensação de insegurança, angústia e medo. Seu vizinho sempre toca a mesma música que ouvia quando passava por aquela rua. Se esses sentimentos e emoções vierem de uma forma muito intensa, pode achar que está com uma Síndrome do Pânico, pois após o assalto vive sentindo medo em lugares que normalmente eram seguros e agradáveis, quando na verdade é um caso de Estresse pós-traumático.

E dá pra voltar a se sentir bem de novo na tal rua? Dá sim. Mas para isso tem que voltar a passar lá diariamente. Porém o que a maioria das pessoas faz é passar a evitar o que trás a sensação ruim e abre mão de tudo o que foi bom ali. 

O que descrevi aqui foi só uma ilustração, no dia a dia as coisas não são tão simples assim. Principalmente para as mulheres que ainda estão submetidas às variações hormonais. As vezes a "depressão" é só TPM, ou a sensação de melancolia e angústia é carência no período de ovulação. Por isso a importância de "olhar para dentro". 

Sabendo o que é e de onde vem fica mais fácil saber o que fazer e qual a melhor forma de fazer. E sabendo isso podemos também ensinar nossos filhos. Está nas nossas mãos criar uma geração mais equilibrada emocionalmente.

"O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós."  Jean-Paul Sartre

Cristine Cabral

terça-feira, 5 de março de 2013

O melhor estímulo

No último post assinado por mim O "mais, o "melhor", o "primeiro" comentei sobre a preocupação das mães em estarem estimulando as crianças desde os primeiros dias de vida. Para quem leu com pressa, ou sem a devida atenção pode ter parecido que sou contra a estimulação infantil. Por isso resolvi voltar ao assunto hoje.

Quero chamar a atenção não é para a estimulação em si e sim para o excesso desta. E que isso pode ser mais prejudicial do que saudável à criança. No caso de uma infância vivida sob a pressão da busca de resultados, com agenda cheia de atividades e com pouco tempo para lazer. Ou seja, a vida de um "mini-adulto".

Sem falar que se perde o prazer das descobertas, pois constantemente estimuladas os aprendizados naturais de cada fase passam despercebidos, pois estes já foram "adiantados" na fase anterior. 

Lembrei agora do desenho animado que mais gosto: Sid, o Cientista. Para quem não conhece o personagem toda manhã ele faz uma "descoberta" e a partir dela aprende "tudo" sobre aquela coisa. Faz tempo que fiz a faculdade de Letras, mas lembro vagamente sobre o Construtivismo um método de ensino que apreende a educação tendo como ponto de partida as experiências e conhecimentos já adquiridos pela criança. (Caso alguma pedagoga leia e queira colaborar deixando algo mais sobre o assunto nos comentário, só podemos agradecer)

Tem coisa mais linda que um bebê de poucos meses descobrindo as mãozinhas? Quem tem um em casa, observe a forma atenta como olha para cada dedinho. Quem já teve, espero que tenha tido a oportunidade de observar e lembrar. E esta beleza pode ser repetida e testemunhada em cada nova descoberta. O poder de ficar em pé, de conseguir andar, de saber-se capaz de subir e descer, a mágica de poder colorir com tinta ou giz de cera... nem que sejam as paredes.

Então, na minha humilde opinião, o melhor estímulo é a presença de alguém que seja importante para a criança. Para estimular a linguagem nada melhor do que ter alguém que fale com a criança. Tv, dvd´s educativos, brinquedos interativos que falam (muitas vezes em português, inglês e espanhol) estimulam sim a aquisição da linguagem, mas não ensinam a interagir com outras pessoas, não expressam sentimentos, não nomeiam para a criança o que ela está fazendo ou o que ela está sentindo.

Mais uma vez voltando aos meus tempos de psicóloga de empresa. Muitas vezes cheguei a entrevistar pessoas com currículo escolar impecável, mas sem nenhuma habilidade social. Não sabiam lidar com ansiedade, pressão ou frustração que poderiam reagir das mais diversas formas, desde uma explosão emocional no meio do ambiente de trabalho, ou mesmo a necessidade de ter um afastamento do trabalho por estresse ou depressão. Nenhuma das alternativas é interessante nem para a empresa, muito menos para a pessoa.

Então antes de estimular seus filhos a serem excelentes alunos, grandes profissionais, estimule-os a serem BOA GENTE. Pois é isso que eles (e todo mundo) são antes de ter qualquer papel na sociedade. Somos todos pessoas. 

Em outras palavras, estimule a se comunicar adequadamente, a compartilhar, ensine o nome dos sentimentos e como lidar adequadamente com cada um, principalmente com os desagradáveis. Não raro quando frustrada, minha filha quer jogar as coisas no chão, mas quando isso acontece digo a ela: "Você pode ficar com raiva, não tem problema, mas não pode se comportar mal por isso."

Agora tem um detalhe importante: só podemos ensinar o que sabemos. Caso você tenha dificuldades nos seus relacionamentos, não sabe lidar corretamente com seus sentimentos, quanto mais cedo procurar ajuda melhor. Não uma ou duas vezes aconteceu de uma criança chegar à clínica com queixa de não respeitar autoridades, de responder agressivamente às pessoas, de não gostar de ser contrariado, etc. E no desenrolar da terapia, com algumas entrevistas com os pais chegamos a conclusão de que a criança está apenas copiando um dos modelos que já tem em casa. Alguns pais reconhecem e partem a procura de ajuda, outros simplesmente não dizem nada, mas "desaparecem" da terapia, outros continuam insistindo que querem que a criança mude, mas que eles não tenham que mudar. 

O que você gostaria que seu filho falasse para você? Que ele a ama, que você é importante para ele? Então seja você o modelo. Diga para ele o que sente. Lembre-se criança não faz o que a gente diz. Faz o que a gente FAZ! Se você quer a companhia dele na sua velhice, crie e fortaleça o vínculo hoje, dê a sua companhia a ele hoje.

"Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar." Dalai Lama


Cristine Cabral


sexta-feira, 1 de março de 2013

Eu quero a minha Mãeeeeee!!!

A semana passada foi daquelas! Na terça a Eduarda começou com uma crise de tosse antes do jantar e só parou depois de vomitar várias vezes. Como tenho muita alergia respiratória e quase sempre estou "fungando" no início achei que teria sido algo diferente que passou aqui por casa...talvez o gato, alguma roupa de lã, o frio... O chato é que a tosse e o mal estar continuou durante a madrugada, ela começou a ficar ofegante, com dificuldades para falar de tanto tossir e com muita expectoração.
Bem, como ela tinha passado por duas crises nas semanas anteriores não foi difícil chegar a conclusão de que tudo isso era resultados de gripes mal curadas... O frio daqui não ajuda nada, muitas mudanças de tempo...
A noite foi longa e logo quando acordamos resolvi levá-la a urgência infantil. Com doença não e brinca. Realmente ela tinha muita expectoração (peito cheio) e foi logo fazer inalação. Examinaram novamente acharam que ainda tinha algo nos pulmões e ela foi encaminhada para o Raio X. Eu sou calma, mas nessas horas bate sempre a insegurança, medo, receio, fraqueza.. enfim.. uma mistura de emoções. Após o Raio X ela foi novamente encaminhada para fazer novamente inalação. Entretanto em urgência vão sempre chegando mais crianças. É definitivamente um ambiente desagradável, ver crianças em sofrimento é muito difícil.  Sinto imenso e sofro junto com as crianças e os pais. Uma mãe estava a chorar porque o filho tinha que ficar internado, que dó! Tentei consolá-la...mas é difícil...sou mãe entendo perfeitamente.
Tenho colegas que trabalham com Psicologia Hospitalar e admiro muito o trabalho feito na área. Como Psicóloga e ser humano este é um limite pessoal. Ainda bem que existem pessoas com esta força!
Depois de passar quase o dia inteiro no hospital a Eduarda foi novamente examinada e liberada para ir para casa. Ufa.... mesmo assim eu e meu marido resolvemos não levá-la a creche por uma semana. Para ela poder se recuperar e diminuir a possibilidade de uma recaída. Rotina diária completamente alterada.
Acontece que eu também não estava bem de saúde, minhas crises de rinite e laringite e "ites" e "ites" fazem de mim uma pessoa constantemente "gripada". Meu marido também ficou, por isso a semana foi PESADA. Noites mal dormidas...preocupações... A casa ficou de cabeça para baixo e as prioridades deixaram de ser prioridades. Na realidade a "única" prioridade era ter a minha filha bem de saúde.
Mesmo com trinta e cinco anos nessas horas bate um desespero e só penso: " EU QUERO A MINHA MÃE!!!". Como seria tudo mais fácil com ela por perto. Seu apoio, força, dedicação e amor... Depois penso como tenho sorte de ter a minha MÃE, porque nem sempre ter mãe significa ter MÃE, correto? Mesmo do outro lado do Atlântico só em pensar nela já me sinto mais confortável, minha mãe é tão maravilhosa, tão forte e presente que as forças não demoram por voltar! Ufa! Um exemplo de mulher, mãe e amiga... dona Irene, gente boa! (risos). Espero poder transmitir esse sentimento a minha filha, de amor aos Pais... a importância do vínculo familiar, pois família é um bem precioso. E também tenho que citar o papai para ele não ficar com ciúmes, não é sr Alcides? Outro amor de pessoa...e um vovô camarada.

Morar longe, ou seja, do outro lado do Atlântico da nisso. Somos só nós os três, viva! E antes de ser psicóloga sou um pessoa mais que comum...também sofro, sinto medo... essas coisas de gente "normal"... (risos). Sem falar em saudades...

O importante é que passamos por mais uma batalha. Mais fortes? Talvez...ver um filho doente destrói qualquer coração, haja força para os pais!

Saúde para todos!

Saudações de terras lusas...

Taciana Ferreira