terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Inocentemente" indelicada

"Vai ficar só nela mesmo, ou pretende ter mais?"


Quando fazem essa pergunta "inocente" para mim, acaba me levando a uma situação um pouco desagradável, pois a reposta, quando não estou disposta a desenvolver o tema é simplesmente "Me separei. Então não sei mais de nada."

Mas dependendo de quem seja meu interlocutor, respondo:

- Hoje para mim tudo são possibilidades. Posso encontrar alguém com quem queira construir uma nova família. Posso resolver fazer uma "produção independente". Posso chegar a conclusão que só uma é suficiente e já me basta. Posso vir a adotar. E comentando com a minha médica ela ainda incluiu mais uma: pode ser que engravide sem querer e sem planejar.

Todas pos-si-bi-li-da-des!

Reforço o possibilidades, pois considerá-las não significa sonhar, desejar, planejar. Mas também não significa temer, fugir, evitar, esquivar. Simplesmente estar preparada para não criar, nem temer fatos que podem ou não vir. É ter consciência que a vida possui inúmeras variáveis impossíveis de controlar, ou mesmo prever. 

Não me importo de responder, mas se eu ainda estivesse "machucada", cada vez que ouvisse essa pergunta, seria um "cutucão na ferida". Embora confesse que já está um pouco chato ter que repetir uma resposta tão longa.

Essa mesma pergunta pode provocar desconforto também a um casal, se por exemplo ela quiser mais e ele não (ou vice-versa). Não é difícil iniciar uma crise conjugal por esse motivo. Principalmente se a pergunta for feita estando os dois cônjuges presente.   

Outra pergunta, que mais parece uma cobrança: "Vocês já têm X anos de casados. Quando vêm os bebês?"

Essa ainda pode ser mais sofrida, pois pode ser que o casal já venha tentando a X anos, sem sucesso. Talvez até passando por episódios de abortamento espontâneo e a pergunta é um gatilho para relembrar todas as dores (físicas e emocionais) e a pessoa ainda tem que fazer "cara de paisagem", ou mesmo sorrir e inventar alguma desculpa ou piadinha.

Sem falar que normalmente estas perguntas vêm em eventos sociais nos quais o objetivo é espairecer, esquecer os problemas...

Encontrei essa imagem no facebook que faz piadas dando respostas que passam na cabeça, mas que a educação não permite que se responda desta forma :)

Da página de humor do facebook: Maternidade da Depressão
Claro que as pessoas não fazem essas perguntas com a intenção de magoar (pelo menos espero que a grande maioria não tenha esse perfil de crueldade), mas não custa ser menos curioso.

Não sei até que ponto é uma questão cultural nossa, brasileira. Pois lembro da Taciana ter comentado que lá em Portugal esse tipo de pergunta não existe.

Mas aqui as perguntas indelicadas começam ainda na pré-adolescência com a famosa perguntinha para uma menina: "E o namoradinho?" Além de embaraçosa por natureza, pode-se está cutucando em uma questão mais profunda, caso essa adolescente esteja se descobrindo homossexual, pois além de lidar com as mudanças orgânicas e psicológicas, ainda tem que lidar com esse tipo de pergunta.

De qualquer forma, deixo minha dica: na hora de puxar assunto, melhor escolher um assunto menos pessoal.

Cristine Cabral

5 comentários:

  1. Tine,

    Acho que crescemos ouvindo essas perguntas para os nosso pais, nossos parentes, e acabamos reproduzindo a maioria sem pensar muito. Acho que é uma coisa cultural mesmo.
    Você nem se dá conta de que é uma pergunta bem pessoal e o que pode vir a provocar no outro. Mas, ultimamente tenho pensado mais sobre isso e justamente porque começo a me sentir incomodada com algumas perguntas que me fazem.
    Recentemente em dezembro uma pessoa pessoa próxima a família do meu esposo, me perguntou: E filhos, vocês ainda não tem? Estão pensando? Eu respondi: Ainda não, mas estamos pensando. E ela veio com outra pergunta: Quantos anos de casados vcs tem mesmo? Eu respond: cinco. E aí veio algo que me surpreendeu, ela disse: "Nossa! Mas vocês tem algum problema para ter filhos?" Eu me fingi de surda, não acreditando no que eu ouvira e perguntei: O QUÊ?? Ai nessa hora chegaram mais pessoas e morreu o assunto. Outra vez foi uma colega de trabalho do meu marido, que fez a mesma pergunta quase igualzinha, a diferença foi que ao invés dela perguntar se tinhamos algum problema para ter filhos ela perguntou: Mas está tudo bem com vocês? Entendendo a pergunta eu disse sim, só ainda não chegou o nosso momento.
    Enfim... a pergunta que já faziam sobre filhos, após 5 anos vem com o agravante da dúvida sobre sua fertilidade e a do marido.
    Vou buscar uma resposta no facebook onde vc pegou essa imagem para dar aos curiosos da próxima vez ;)

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    1. Realmente é algo cultural. É meio que um cumprimento, ou até uma forma de tentar dizer que se importa com o outro. O problema é exatamente quando ultrapassa o bom senso.
      Se incomodou só responder, imagine se de fato existisse algum problema?
      Boa sorte, amiga :)
      Cristine Cabral

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Realmente Vanessa as pessoas acabam misturando curiosidade com indelicadeza e acabam sendo inconvenientes... Bem, eu que o diga! Brasileira no exterior, escuto cada uma. Mas é isso aí, eu sinceramente olho para a pessoa e digo, como? (risos) Para não dizer, "Vem cá eu te conheço?!?" Tem cada uma...
      Bjos,
      Taciana Ferreira

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