terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Palmada

Assunto polêmico, mas que deve sim ser debatido, discutido, avaliado... 

Eu, nesses 3 anos, 2 meses e alguns dias, nunca bati na minha filha. Não vou negar que já tive vontade. Mas consegui me controlar. 

A primeira vez que tive essa vontade ela tinha pouco mais de 1 ano, nem lembro direito o que ela fez que eu disse que não podia e ela olhou no meu olho e fez de novo, e eu repeti que não podia e ela me desafiou novamente. Isso é natural. todas as crianças (e adolescentes) desafiam a autoridade dos pais em algum momento e vez ou outra refazem esse teste. Teria sido muito mais rápido se eu tivesse dado uma palmada e dito que se ela fizesse de novo, apanhava de novo. Porém escolhi outro caminho e continuei controlando o comportamento com voz firme, olhar duro, mas sem gritar, não tenho ideia de quanto tempo isso levou, mas pareceu uma eternidade, repetindo, repetindo, repetindo. Encarei a situação mais como um treino para mim mesma, para eu aprender a controlar as minhas emoções. Foi uma situação de educação mútua. 

E assim tem sido. Tanto que hoje em dia com ela tendo uma oralidade mais desenvolvida, dependendo do comportamento resolvemos tudo na conversa.
Eu digo: 
- Filha, isso que você está fazendo, pode?
Ela:
- Não pode.
- Se você continuar fazendo, o que vai acontecer?
- Você vai brigar comigo e eu vou chorar.

Acredito que muitas pessoas não estão acreditando que isso seja real. Que uma conversa dessa não é possível com uma criança de 3 anos. Eu não tenho como provar, cabe a cada uma acreditar ou não. Mas quem nos conhece, mesmo que não tenha presenciado, sabe que é possível, pois sou uma pessoa muito  calma, raramente sinto raiva (não é que sufoque a raiva e não demonstre, é que não sinto mesmo, mas isso é assunto pra outro post) e a Nadine é uma criança muitíssimo tranquila, desde a barriga, ela raramente chutava, suas mexidas na barriga pareciam que ela estava se espreguiçando. (Ouw saudade disso...). Assim sendo, discipliná-la sem o uso da palmada é uma tarefa possível e real.

Tenho, como qualquer ser humano, meus dias ruins, principalmente quando estou de TPM. Nesses dias acontece de perder o controle e ter mais vontade de dar uma palmada, mais um motivo para eu nunca ter dado a primeira, não quero correr o risco de que escape uma que seja mais por motivo do meu emocional alterado do que do que ela fez propriamente.

As vezes, nesses dias, me pego feito uma louca a gritar com ela por causa de alguma besteira como um copo de água que derramou, mas passado o meu "chilique" e o choro dela, chamo-a e peço desculpas por ter gritado. Digo que o que ela fez estava errado sim, que ela não pode fazer de novo, mas que a minha reação foi muito maior do que precisava e por isso que eu peço desculpas.

Pedir desculpas a um filho não tira a autoridade dos pais, só demonstra que você também é humano, passível de cometer erros, que ama e respeita a criança como pessoa e ainda oferece um modelo adequado a ser copiado.

No geral, a palmada funciona, na maioria das vezes não traumatiza, não cria espancadores, mas como mãe escolhi outra prática por levar em consideração onde a palmada falha:

Dói e passa

Muitas vezes a criança faz algo, sabendo que tal coisa terá como consequência algumas palmadas, mas não liga, pois sabe que só dói na hora. E as vezes nem dói, pois a mãe fica carregada de culpa e dúvidas e dá uma palmadinha de leve. Como psicóloga, digo que a palmada de leve é mais ineficaz do que a palmada normal. A palmada normal é uma punição que já escrevi sobre em Punir, só, não resolve. A palmada de leve nem chega a ser punição, então não terá qualquer efeito educacional. E pode levar ao fingimento, ou ao deboche "Nem doeu!!!"

Não é algo mensurável


Quanto é uma palmada de leve? Quando deixa de ser peia e passa a ser surra? A da mãe é leve e a do pai é forte? Como criar uma equivalência entre a falta cometida e a punição aplicada? Como não me deixar levar por questões emocionais minhas? Como não é algo que dê pra medir, na dúvida não sou a favor.

Diminui a possibilidade de diálogo

Pois quando a criança é menor rapidamente ela esquece que apanhou, mas quando as crianças já tem capacidade de entender o que é justiça, podem ser castigadas injustamente (já mencionei antes que os pais também erram) e ter como consequência um sentimento de mágoa que, se for uma episódio isolado, será esquecido, mas se for uma constante na rotina, pode ser que a criança, aos poucos, se torne cada vez mais fechada. 

As vezes é incoerente

Acho muito incoerente ensinar um filho a não bater no irmão mais novo, batendo no mais velho. Para mim é como ensinar a não cuspir no chão, cuspindo. Imagine a dúvida que fica na cabecinha de quem não tem muito conhecimento das coisas da vida... "por que ele pode me bater e eu não posso bater?"; "Se ele é grande e bate em mim que sou pequeno, por que não posso bater no meu irmão menor, ou no cachorro que são menores que eu?"

Pode trazer ganho secundário

Isso se aplicaria a crianças mais velhas e mais manipuladoras. Se elas sabem que a mãe se descontrola facilmente, mas que passada a raiva se enche de culpa e tenta fazer algo para compensar o descontrole, vão conseguir tirar proveito próprio. Ou seja, acabam ganhando duas vezes: fazem o que querem e ainda ganham um agrado, mesmo que nesse intervalo tenham que passar por algo ruim, mas que já estão acostumados e sabem que nem é tão ruim assim. Essa forma de agir pode ser consciente (planejada), ou inconscientemente (por condicionamento). 

Educar sem palmada exige uma disciplina muito grande dos pais. Como num depoimento que colhi de uma mãe (que não é psicóloga e preferiu que não citasse o nome dela) num grupo virtual do qual faço parte e que estava desenvolvendo um debate sobre a palmada.


"Tenho um filho de 4 anos, o que funcionou com ele foi ser rígida com as regras, claro que até ele parar de sair do cantinho foi complicado, mas quando decidi fazer tudo de forma coerente ele aprendeu e hoje se faz algo de errado basta eu olhar e mandar ele sentar em qualquer lugar e ele fica, o problema é que temos que ser coerente, e se há uma regra ela tem que ser seguida em qualquer lugar a qualquer hora (mesmo quando estamos cansadas), uma vez fui em uma loja e ele deu um show, falei pra ele o que tinha feito de errado e que ficaria no cantinho e o povo me olhava como se eu fosse um monstro por colocá-lo sentado em uma cadeira, mesmo assim fiz o que devia, hoje ele sabe que seja onde for as regras são as mesmas, as vezes estamos cansadas e seguir com o cantinho é trabalhoso se não formos coerentes a criança vai ficar testando se a regra se aplica aquela situação ou não, o problema é nossa falta de coerência."

Esse depoimento resume o que é educar sem palmada. Algo possível, mas muito mais extenuante, que exige muito mais disciplina e controle emocional dos pais. Exige também imunidade às críticas sociais. Mas essas críticas acabam vindo de uma forma ou de outra: se deixar a criança no cantinho, se der uma palmada em público, se não disciplinar e deixar a criança fazer o que quiser, sempre vai ter alguém que vai achar que o que você está fazendo é um absurdo. Para quem observa de fora, sempre "a culpa é da mãe." 

Não quero com esse texto dizer que as mães que educam sem palmadas são melhores. NADA DISSO! Uma mãe que se utiliza da palmada como meio educacional pode fazê-lo por não conhecer outros meios, ou por ela mesma não ser uma pessoa disciplinada (como ensinar algo que você não sabe?), ou por ter uma criança que tem um temperamento muito mais desafiador que a média.Cada uma sabe a rotina que tem, a ou as crianças que tem em casa, qual o temperamento da sua pequena cria. Uma mãe pode sim fazer uso da palmada sem ser injusta, ou descontrolada. 


Cristine Cabral



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