terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O "mais", o "melhor", o "primeiro"

Na época em que trabalhava na área organizacional e fazia muitas entrevistas para empregos ou estágio era praxe a pergunta: "Qual característica sua, você acha que precisa melhorar?" Nunca fiz nenhuma estatística, mas a impressão era que cerca de 90% respondiam: "A ansiedade. Sou uma pessoa ansiosa. Quero que as coisas aconteçam o mais rápido possível. Não gosto de esperar" Isso por si só não eliminava, nem aprovava os candidatos, dependeria muito do perfil solicitado para a vaga. Mas me perguntava: "Será uma 'epidemia' de ansiedade?"

Ano passado li o livro Modernidade Líquida de Zygmunt Bauman e algumas citações me levaram a reflexão sobre o nosso contexto social contemporâneo:
“... não se pode errar, também não pode saber se se está certo." (p. 75) 
"Os objetivos podem ser estabelecidos apenas para a presente etapa do esforço sem fim – e a satisfação de alcançar um objetivo é apenas momentânea. (…) não há tempo para descanso, e toda celebração de
sucessos momentâneos não passa de um intervalo antes de outra rodada de trabalho duro (…) A busca da aptidão é um estado permanente de auto-exame minucioso, auto-recriminação e auto-depreciação permanentes, e assim também de ansiedade contínua." ( p. 92,93)
“convive-se com a falta de garantias (de posição, títulos e sobrevivência), a incerteza (em relação à sua continuação e estabilidade futura) e a insegurança (do corpo, do eu e de suas extensões: posses, vizinhança, comunidade)” (p. 184).

Não pretendo fazer nenhuma análise social ou antropológica, mas sim, como mãe, pensar em como esta realidade pode afetar a minha filha e como psicóloga infantil como as crianças estão sendo educadas dentro deste contexto.

A ansiedade das mães quanto ao futuro dos filhos, uma ânsia em oferecer "tudo do bom e do melhor" muitas vezes não é sentida, ou percebida nem por elas mesmas, nem pelo contexto social, já que é "normal" preparar o filho para que consiga as melhores oportunidades e o quanto antes, que ele seja o "mais" competente, o "melhor" funcionário, o "primeiro" a ser promovido. Teoricamente isto lhe garantiria alguma segurança com relação ao futuro. (Teoricamente!)

Quando presencio uma reunião de mães, que não são amigas e sim apenas conhecidas, as vezes me sinto num concurso de "A Melhor Mãe da Face da Terra!" cujos critérios são o desempenho cognitivo, motor, emocional, social e etc das crianças. "Meu filho andou com 8 meses", "O meu tem 3 anos e já sabe escrever o nome", "A minha filha, é praticamente a chefe das crianças do prédio e só tem 6 anos". Até aí tudo bem, pois estando várias pessoas que tenha um único ponto em comum se falar só sobre este assunto. A "competição" que percebo é quanto aos olhares de reprovação àquela mãe que diz que não se importa do filho de 4 anos beber refrigerante, caso a maioria deles seja adepta da alimentação super-saudável, ou o olhar de "afff que exagero" àquela que diz que o filho tem 5 anos e nunca comeu nada industrializado, caso o grupo seja das adeptas das comidinhas de prateleira de supermercado. 

Essa cultura do "mais", do "melhor", do "primeiro" me preocupa sobre o quanto e como as crianças estão sendo afetadas por esse modelo de sociedade doentia, pois não é à toa que patologias como Síndrome do Pânico, Compulsão Alimentar (ou de álcool, ou de jogo, ou de compras, ou de qualquer coisa que traga sensação de prazer imediato), Transtorno Obsessivo Compulsivo, Fobias das mais diversas inclusive a Fobia Social, dentre outras mais têm sido cada vez mais diagnosticadas.

A palavra de ordem é "estimular". Mães procuram toda forma de estimular suas crianças desde os primeiros meses de vida, a mídia se favorece dessa palavra para vender jogos e brinquedos, colégios prometem além do ensino básico, os mais diversos tipos de estímulos. Não que estimular seja errado, mas, como tudo na vida, se a dose é excessiva, também se tornará prejudicial.

É lindo um bebê de 8 meses que já anda, dá orgulho ver o filho de 3 anos escrevendo o nome. Mas devemos analisar quais aspectos estão sendo estimulados, se essa corrida contra o tempo e contra os "concorrentes" não está "adultizando" cedo demais. E se a menina resolver ser a primeira dentre as amigas a beijar na boca com 10 anos, ou se o menino aparecer com alguma bebida alcoólica aos 13 anos? Se eles sempre fizeram todas as coisas mais cedo que os colegas, por que não começar logo a adolescência (com todos os seus riscos, dramas e preocupações)? Isso sem falar de como a criança se sente com relação a tantas cobranças de desempenho.

Então mãezinhas, cuidado com a dose... seja do remédio, seja do elogio, seja da disciplina... Só amor demais é que não faz mal, mas a forma como este amor é demonstrado, também deve ser moderado. Ninguém gosta de se sentir sufocado, nem mesmo as crianças.

Equilíbrio é a palavra de ordem.

Cristine Cabral

P.S. Se quiser ler mais sobre Ansiedade Infantil indico http://www.pediatriaemfoco.com.br/posts.php?cod=279&cat=8

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"Inocentemente" indelicada

"Vai ficar só nela mesmo, ou pretende ter mais?"


Quando fazem essa pergunta "inocente" para mim, acaba me levando a uma situação um pouco desagradável, pois a reposta, quando não estou disposta a desenvolver o tema é simplesmente "Me separei. Então não sei mais de nada."

Mas dependendo de quem seja meu interlocutor, respondo:

- Hoje para mim tudo são possibilidades. Posso encontrar alguém com quem queira construir uma nova família. Posso resolver fazer uma "produção independente". Posso chegar a conclusão que só uma é suficiente e já me basta. Posso vir a adotar. E comentando com a minha médica ela ainda incluiu mais uma: pode ser que engravide sem querer e sem planejar.

Todas pos-si-bi-li-da-des!

Reforço o possibilidades, pois considerá-las não significa sonhar, desejar, planejar. Mas também não significa temer, fugir, evitar, esquivar. Simplesmente estar preparada para não criar, nem temer fatos que podem ou não vir. É ter consciência que a vida possui inúmeras variáveis impossíveis de controlar, ou mesmo prever. 

Não me importo de responder, mas se eu ainda estivesse "machucada", cada vez que ouvisse essa pergunta, seria um "cutucão na ferida". Embora confesse que já está um pouco chato ter que repetir uma resposta tão longa.

Essa mesma pergunta pode provocar desconforto também a um casal, se por exemplo ela quiser mais e ele não (ou vice-versa). Não é difícil iniciar uma crise conjugal por esse motivo. Principalmente se a pergunta for feita estando os dois cônjuges presente.   

Outra pergunta, que mais parece uma cobrança: "Vocês já têm X anos de casados. Quando vêm os bebês?"

Essa ainda pode ser mais sofrida, pois pode ser que o casal já venha tentando a X anos, sem sucesso. Talvez até passando por episódios de abortamento espontâneo e a pergunta é um gatilho para relembrar todas as dores (físicas e emocionais) e a pessoa ainda tem que fazer "cara de paisagem", ou mesmo sorrir e inventar alguma desculpa ou piadinha.

Sem falar que normalmente estas perguntas vêm em eventos sociais nos quais o objetivo é espairecer, esquecer os problemas...

Encontrei essa imagem no facebook que faz piadas dando respostas que passam na cabeça, mas que a educação não permite que se responda desta forma :)

Da página de humor do facebook: Maternidade da Depressão
Claro que as pessoas não fazem essas perguntas com a intenção de magoar (pelo menos espero que a grande maioria não tenha esse perfil de crueldade), mas não custa ser menos curioso.

Não sei até que ponto é uma questão cultural nossa, brasileira. Pois lembro da Taciana ter comentado que lá em Portugal esse tipo de pergunta não existe.

Mas aqui as perguntas indelicadas começam ainda na pré-adolescência com a famosa perguntinha para uma menina: "E o namoradinho?" Além de embaraçosa por natureza, pode-se está cutucando em uma questão mais profunda, caso essa adolescente esteja se descobrindo homossexual, pois além de lidar com as mudanças orgânicas e psicológicas, ainda tem que lidar com esse tipo de pergunta.

De qualquer forma, deixo minha dica: na hora de puxar assunto, melhor escolher um assunto menos pessoal.

Cristine Cabral

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O seu filho come bem ou mal?


Já há uns quatro dias que a Maria Eduarda está com tosse, nariz escorrendo...e o peito cheio. Ela costuma se alimentar muito bem e adora comida "de panela", mas nesses dias "doentinha" fica sempre sem grande apetite. Ontem na hora do jantar foi aquela festa para tentar que ela comesse metade da comida que estava no prato. Bem, depois de todos os argumentos e após algumas garfadas não insisti mais. Pulei essa etapa e fui para a fruta, que ela adora e lá foi uma banana quase toda. Ela ficou bem e eu dei-me por satisfeita. É importante não fazer que o momento da alimentação vire uma guerra de poderes entre pais e filhos.

A comida é uma necessidade primária que está diretamente associada ao prazer. O processo normal da ingestão é: sensação de fome - ingestão - prazer - saciação - detenção da ingestão. Nesta sequência só a saciação repetida que quebra  com este ciclo harmônico, pois podemos beber sem sede como também comer sem fome. É quando entra em jogo o que os pais ensinam aos filhos no que diz respeito a alimentação.


Um dos paradoxos atuais se dá no fato do padrão de beleza estar ligado ao "ser magro", ou esbelto. Mas é comum vermos bebês e crianças gordinhas, sim. Mas afinal, onde está o problema? Um problema comum é que as crianças não costumam se preocupar com o peso até uma certa idade, mas com a chegada da adolescência esta preocupação pode vir a tornar-se excessiva. Sendo mais comum este comportamento nas meninas.

Gosto de utilizar alguns casos com que me deparei enquanto psicóloga. Acompanhei um caso em que a criança vomitava diariamente, tinha muita falta de apetite e restrições alimentares... Descartado inicialmente algum problema físico ao conversar com a mãe não foi difícil encontrar o problema. Os hábitos alimentares da família eram "light" e "diet", mas ao extremo! A mãe tinha problemas com aumento de peso, então estava nessa constante guerra com a balança. A questão é que encaminhou o seu problema ao filho, sem querer claro! Como restringia a entrada dos alimentos em casa tornou a sua dieta a dieta do filho e o mesmo não estava a gostar nada disso. Claro que um caso desses envolve muitas variáveis e não vou conseguir explicar todos os detalhes e pormenores, mas queria mostrar o quanto os nossos hábitos alimentares influenciam a alimentação dos nossos filhos.

Situações esporádicas e pontuais podem não serem consideradas problema, agora quando isso se torna frequente e começa a ser prejudicial para a saúde da criança...sim é preciso intervir.

Aqui vão os Transtornos alimentares "maiores":

- Excesso de peso;
- Obesidade;
- Ruminação;
- Bulimia;
- Anorexia.

É importante detectar um problema a tempo como também descartá-lo depois de ser explorado. Cada transtorno referido será melhor explorado nos textos a seguir.

O bom é que os pais já estão mais conscientes disso e muitos já têm cuidado com o levam para casa. Até já adquiriram melhores hábitos para encorajar os filhos. A vida é isso mesmo uma eterna e constante aprendizagem! E admiro esta atitude. 


É muito simples, questione-se; O meu filho come bem ou mal?

Saudações de terras lusas!

Taciana Ferreira




sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

E por falar em Palmada.


O assunto palmada vem sendo discutido, debatido e avaliado nos últimos tempos. Uns dizem que sim, outros dizem que não. Vou falar um pouco de mim, sim, já dei  palmadas na minha filha. Não sei quantas vezes, não contei e nem vou contar. Dei quando foi necessário, depois de esgotar todas as negociações entre mãe e filha, depois de pedir uma, duas, três vezes e pôr no castigo...

Costumo chamar de "estalo" para a vida (risos) o que uns chamam de "palmada pedagógica"... Minha filha é uma criança muito ativa e destemida, até demais! Moramos em uma casa de campo, ela sempre teve muito espaço e quem a conhece sabe bem do que estou a falar, a Duda é aventureira, adora adrenalina e só tem 4 anos! Ela corre se espatifa pelo chão e não chora, fica zangada quando se machuca e faz força para não chorar...digamos ela é dura na queda! Anda de moto com o pai e pede para ele acelerar mais... desce na ladeira de triciclo desde o primeiro ano e acha o máximo... brinca com os cachorros (pastor alemão, boxer e pastor belga) como se fossem bonecos... a palavra medo para ela não põe medo.

Por ser uma criança destemida e ativa muitas vezes consegue me tirar do sério! Claro que ela tenta medir forças comigo e me desafia diariamente, a parte boa é que geralmente conseguimos nos entender. Educar é uma tarefa árdua e é feita diariamente a todo momento e em todo lado.

Não sou a favor e nem contra a palmada, entendo é que passamos do 80 para o 8, em tempos era demais e agora virou caso de justiça. Sou absolutamente contra violência e abuso físico ou verbal. Como a Cristine referiu, no texto A Palmada, não se mede a intensidade de uma palmada, sim realmente isto é impossível! Mas a finalidade sim, bater sem motivo, ou por qualquer coisa que a criança faça de errado também não se aplica. A linha entre a violência e a assertividade é ténue...nessas horas que entra o nosso amigo bom senso. Daí eu chamar de estalo, faz mais barulho que propriamente dor.

A minha experiência com crianças com mau comportamento me fez repensar e muito sobre o assunto. Muitas vezes diante de um menino mal-educado, até pensava "têm pais que mereciam levar umas palmadas" (risos) por serem tão permissivos! Volto a expressão que rapidamente passamos do 8 para o 80... de um regime familiar autoritário para o permissivo...onde a meninada praticamente manda nos pais. Pais confusos, com medo de errar, com medo que o filho o deixe de amar se falar mais alto...com medo de traumatizar a criança...qual será o futuro de uma criança que acha que tudo é lindo?

Eu amo minha filha, demonstro amor, carinho, cuido, acompanho sua educação, oriento, dito regras... faço tudo isso e um pouquinho mais, uma palmada no momento "certo" não me torna uma mãe má! Não me orgulho de o fazer e ultimamente não tem sido necessário... isso sim, é motivo de orgulho. Continuo a explicar e negociar uma, duas e três vezes e quando chego ao ..."Vai ser preciso uma palmada minha filha?" ... Ela já desiste... (risos). Também tem os dias que reconheço que errei, também falho e peço desculpas a ela. Só queria que os pais entendessem que a palavra culpa não se aplica nesses casos.

O mundo não é beeem cor-de-rosa, a vida não é fácil...quando crescemos as pessoas não falam sempre baixinho e com calma, os nossos chefes nem sempre são bonzinhos, as pessoas não estão sempre de bom-humor e muita vezes escutamos o que não queremos, bem como fazemos o que não gostamos, por isso...

As crianças precisam entender que não podem fazer tudo, que é preciso ter regras e disciplina... juntamente com o amor, apoio, carinho e compreensão dos pais. Entender e aceitar o "NÃO". Se for possível ser feito sem palmada, melhor ainda! Aprender a lidar com as frustrações é um grande desafio para elas, por isso que não é difícil ver crianças berrando e esperneando no chão quando não conseguem algo. E voltamos ao texto da Cristine, Punir, só, não resolve.

O papel dos pais de educadores é diário. Um desafio diário! 

Saudações de terras lusas...

Taciana Ferreira










terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

A Palmada

Assunto polêmico, mas que deve sim ser debatido, discutido, avaliado... 

Eu, nesses 3 anos, 2 meses e alguns dias, nunca bati na minha filha. Não vou negar que já tive vontade. Mas consegui me controlar. 

A primeira vez que tive essa vontade ela tinha pouco mais de 1 ano, nem lembro direito o que ela fez que eu disse que não podia e ela olhou no meu olho e fez de novo, e eu repeti que não podia e ela me desafiou novamente. Isso é natural. todas as crianças (e adolescentes) desafiam a autoridade dos pais em algum momento e vez ou outra refazem esse teste. Teria sido muito mais rápido se eu tivesse dado uma palmada e dito que se ela fizesse de novo, apanhava de novo. Porém escolhi outro caminho e continuei controlando o comportamento com voz firme, olhar duro, mas sem gritar, não tenho ideia de quanto tempo isso levou, mas pareceu uma eternidade, repetindo, repetindo, repetindo. Encarei a situação mais como um treino para mim mesma, para eu aprender a controlar as minhas emoções. Foi uma situação de educação mútua. 

E assim tem sido. Tanto que hoje em dia com ela tendo uma oralidade mais desenvolvida, dependendo do comportamento resolvemos tudo na conversa.
Eu digo: 
- Filha, isso que você está fazendo, pode?
Ela:
- Não pode.
- Se você continuar fazendo, o que vai acontecer?
- Você vai brigar comigo e eu vou chorar.

Acredito que muitas pessoas não estão acreditando que isso seja real. Que uma conversa dessa não é possível com uma criança de 3 anos. Eu não tenho como provar, cabe a cada uma acreditar ou não. Mas quem nos conhece, mesmo que não tenha presenciado, sabe que é possível, pois sou uma pessoa muito  calma, raramente sinto raiva (não é que sufoque a raiva e não demonstre, é que não sinto mesmo, mas isso é assunto pra outro post) e a Nadine é uma criança muitíssimo tranquila, desde a barriga, ela raramente chutava, suas mexidas na barriga pareciam que ela estava se espreguiçando. (Ouw saudade disso...). Assim sendo, discipliná-la sem o uso da palmada é uma tarefa possível e real.

Tenho, como qualquer ser humano, meus dias ruins, principalmente quando estou de TPM. Nesses dias acontece de perder o controle e ter mais vontade de dar uma palmada, mais um motivo para eu nunca ter dado a primeira, não quero correr o risco de que escape uma que seja mais por motivo do meu emocional alterado do que do que ela fez propriamente.

As vezes, nesses dias, me pego feito uma louca a gritar com ela por causa de alguma besteira como um copo de água que derramou, mas passado o meu "chilique" e o choro dela, chamo-a e peço desculpas por ter gritado. Digo que o que ela fez estava errado sim, que ela não pode fazer de novo, mas que a minha reação foi muito maior do que precisava e por isso que eu peço desculpas.

Pedir desculpas a um filho não tira a autoridade dos pais, só demonstra que você também é humano, passível de cometer erros, que ama e respeita a criança como pessoa e ainda oferece um modelo adequado a ser copiado.

No geral, a palmada funciona, na maioria das vezes não traumatiza, não cria espancadores, mas como mãe escolhi outra prática por levar em consideração onde a palmada falha:

Dói e passa

Muitas vezes a criança faz algo, sabendo que tal coisa terá como consequência algumas palmadas, mas não liga, pois sabe que só dói na hora. E as vezes nem dói, pois a mãe fica carregada de culpa e dúvidas e dá uma palmadinha de leve. Como psicóloga, digo que a palmada de leve é mais ineficaz do que a palmada normal. A palmada normal é uma punição que já escrevi sobre em Punir, só, não resolve. A palmada de leve nem chega a ser punição, então não terá qualquer efeito educacional. E pode levar ao fingimento, ou ao deboche "Nem doeu!!!"

Não é algo mensurável


Quanto é uma palmada de leve? Quando deixa de ser peia e passa a ser surra? A da mãe é leve e a do pai é forte? Como criar uma equivalência entre a falta cometida e a punição aplicada? Como não me deixar levar por questões emocionais minhas? Como não é algo que dê pra medir, na dúvida não sou a favor.

Diminui a possibilidade de diálogo

Pois quando a criança é menor rapidamente ela esquece que apanhou, mas quando as crianças já tem capacidade de entender o que é justiça, podem ser castigadas injustamente (já mencionei antes que os pais também erram) e ter como consequência um sentimento de mágoa que, se for uma episódio isolado, será esquecido, mas se for uma constante na rotina, pode ser que a criança, aos poucos, se torne cada vez mais fechada. 

As vezes é incoerente

Acho muito incoerente ensinar um filho a não bater no irmão mais novo, batendo no mais velho. Para mim é como ensinar a não cuspir no chão, cuspindo. Imagine a dúvida que fica na cabecinha de quem não tem muito conhecimento das coisas da vida... "por que ele pode me bater e eu não posso bater?"; "Se ele é grande e bate em mim que sou pequeno, por que não posso bater no meu irmão menor, ou no cachorro que são menores que eu?"

Pode trazer ganho secundário

Isso se aplicaria a crianças mais velhas e mais manipuladoras. Se elas sabem que a mãe se descontrola facilmente, mas que passada a raiva se enche de culpa e tenta fazer algo para compensar o descontrole, vão conseguir tirar proveito próprio. Ou seja, acabam ganhando duas vezes: fazem o que querem e ainda ganham um agrado, mesmo que nesse intervalo tenham que passar por algo ruim, mas que já estão acostumados e sabem que nem é tão ruim assim. Essa forma de agir pode ser consciente (planejada), ou inconscientemente (por condicionamento). 

Educar sem palmada exige uma disciplina muito grande dos pais. Como num depoimento que colhi de uma mãe (que não é psicóloga e preferiu que não citasse o nome dela) num grupo virtual do qual faço parte e que estava desenvolvendo um debate sobre a palmada.


"Tenho um filho de 4 anos, o que funcionou com ele foi ser rígida com as regras, claro que até ele parar de sair do cantinho foi complicado, mas quando decidi fazer tudo de forma coerente ele aprendeu e hoje se faz algo de errado basta eu olhar e mandar ele sentar em qualquer lugar e ele fica, o problema é que temos que ser coerente, e se há uma regra ela tem que ser seguida em qualquer lugar a qualquer hora (mesmo quando estamos cansadas), uma vez fui em uma loja e ele deu um show, falei pra ele o que tinha feito de errado e que ficaria no cantinho e o povo me olhava como se eu fosse um monstro por colocá-lo sentado em uma cadeira, mesmo assim fiz o que devia, hoje ele sabe que seja onde for as regras são as mesmas, as vezes estamos cansadas e seguir com o cantinho é trabalhoso se não formos coerentes a criança vai ficar testando se a regra se aplica aquela situação ou não, o problema é nossa falta de coerência."

Esse depoimento resume o que é educar sem palmada. Algo possível, mas muito mais extenuante, que exige muito mais disciplina e controle emocional dos pais. Exige também imunidade às críticas sociais. Mas essas críticas acabam vindo de uma forma ou de outra: se deixar a criança no cantinho, se der uma palmada em público, se não disciplinar e deixar a criança fazer o que quiser, sempre vai ter alguém que vai achar que o que você está fazendo é um absurdo. Para quem observa de fora, sempre "a culpa é da mãe." 

Não quero com esse texto dizer que as mães que educam sem palmadas são melhores. NADA DISSO! Uma mãe que se utiliza da palmada como meio educacional pode fazê-lo por não conhecer outros meios, ou por ela mesma não ser uma pessoa disciplinada (como ensinar algo que você não sabe?), ou por ter uma criança que tem um temperamento muito mais desafiador que a média.Cada uma sabe a rotina que tem, a ou as crianças que tem em casa, qual o temperamento da sua pequena cria. Uma mãe pode sim fazer uso da palmada sem ser injusta, ou descontrolada. 


Cristine Cabral



sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Dificuldades de Aprendizagem: Um Bicho de 7 cabeças?


Inicío o texto com a seguinte pergunta: Quando não existia escola havia dificuldades de aprendizagem? 

Não, definitivamente não! Como poderia existir alguma dificuldade de aprendizagem no âmbito escolar se não era necessário ir a escola, aprender a ler, fazer contas...etc...etc...?

Então, aonde quero chegar? As dificuldades de Aprendizagem surgiram quando foi necessário que todos tivessem que ir a escola Aprender. Parece óbvio, mas muito vezes caímos no erro de achar que há algo de errado em nossos filhos porque eles não aprendem, em vez de tentar entender o motivo do problema. Sendo a escolaridade obrigatória e o sucesso escolar almejado e desejado por todos os pais aos seus filhos, quando isso não ocorre facilmente vemos pais frustrados, preocupados e até mesmo desesperados!

De fato, e aproveitando um pouco do que a Cristine referiu no texto passado, os pais precisam conhecer os seus filhos. Estar atentos aos primeiros sinais de possíveis dificuldades. Para as crianças que vão a pré-escola muitas vezes os professores é quem são os primeiros a perceber quando algo não vai de acordo com o esperado para a idade.

É importantíssimo, que haja compreensão e sabedoria dos pais para os avisos, que escutem e saibam receber a notícia como ajuda e não ofensa. Do tipo: "Não, não meu filho não é assim..o meu filho é inteligente"! Proteger o filho nem sempre significa ajudar. Escutar o que o professor tem a dizer, procurar outros profissionais é sempre a melhor opção. 

Vou dar um exemplo de um caso em que a criança com 2,3 anos falava muito pouco e parecia estar sempre "desligada" de tudo na creche e também em casa. Sabem qual era o problema? Ela ouvia muito mal...resolvido o problema de audição rapidamente a criança desenvolveu a linguagem. Depois cito os casos de crianças que têm dificuldade em aprender a ler no primeiro ano, e que facilmente são consideradas disléxicas, mas têm problemas de visão... O quanto antes detectado o problema de modo correto melhor. 

O primeiro ano escolar é muito importante para a criança e o acompanhamento dos pais ainda mais.  O acompanhamento diário dos pais nas tarefas escolares dos filhos influencia de modo positivo o desempenho das crianças. Aaprendizagem da leitura de modo correto pressupõe a aprendizagem das outras matérias, pois para aprender matemática é preciso ler e interpretar. Muitas vezes a criança não consegue acompanhar o ritmo da turma e compara-se aos colegas que não parecem ter qualquer dificuldade e conclui que é " menos capaz. Quando isso ocorre o passo para o evitamento da tarefa é rápido! Não queremos que o problema chegue a esse ponto? Não.


Logo, a avaliação da dificuldades de aprendizagem no 1º ciclo permitirá perceber melhor as dificuldades do aluno (por estar centrada em áreas relativamente delimitadas) e também por ser realizada num momento em que com maior sucesso se poderá evitar acumulo dos problemas. 

Conforme Lopes (2010), a avaliação tem que ser feita nas áreas deficitárias (ex. leitura e cálculo), e nos processos que estão envolvidos, processos esses treináveis e também em áreas fundamentais como a motivação para a aprendizagem e as relações com os colegas. A abordagem destas áreas irá permitir uma melhor compreensão do aluno face à escola, bem como as probabilidades de um intervenção bem sucedida.

É importante entender que a aprendizagem escolar não é algo que se desenvolve com o passar do tempo e sim um processo que se treina diariamente. Por isso pais, se o seu filho apresentar dificuldades de aprendizagem, não se desespere! Procure ajuda e dê apoio a criança. As crianças agradecem e nós também.

Saudações de terras lusas,

Taciana Ferreira