terça-feira, 18 de dezembro de 2012

E isso é normal?!?!

A minha pequena é muito sensível e cuidadosa. Deu os primeiros passos antes de um ano, mas só andou mesmo, quando se sentiu segura. Nunca levei sustos com escadas, pois antes de ter certeza que conseguia subir, ela parava e se virava para me dar a mão.

Até hoje em dia ela não gosta de palhaços e tem medo de alguns bonecos, principalmente aquelas fantasias que as pessoas usam umas cabeças enormes de personagens de desenhos animados. 

Mesmo alguns desenhos que outras crianças da idade dela gostam, ela não gosta. Um dia desses passava Tom & Jerry e ela me disse: "Mamãe não quero assistir isso por que o gato quer machucar o ratinho." 

E então vem a pergunta do título: "E isso é normal?!?!"

A minha atenção não está no que é "normal", mas em como está sendo o desenvolvimento dela. Se, no tempo dela, está conseguindo superar seus medos. Hoje ela sobe e desse escadas com tranquilidade, sem a minha mão, não chora mais com os palhaços, embora ainda não goste da ideia de ir brincar com eles. Seria anormal se ela não conseguisse superar. 

Lembro que em uma ocasião estava conversando com minha amiga Lorena (mãe a mais tempo que eu, psicóloga a mais tempo que eu, gente a mais tempo que eu ;-) ) e falando com ela sobre os medos da Nadine, comentei que eu precisava de uma outra criança mais destemida para ser modelo para a minha pequena. E ela me perguntou (ou comentou, não lembro direto) algo do tipo "Precisa porque? Me lembro que no meu tempo as crianças conseguiam dar conta de seus medos sozinhas" 

Na hora refleti um pouco e percebi de que essa geração de mães (a qual me incluo) quer suprir seus filhos de toda e qualquer necessidade, mesmo que não seja uma necessidade real da criança, mas uma desconfiança da mãe de que aquela coisa pode ser que venha a dificultar a vida dela... Isso não tem como saber... são variáveis muito indefinidas... e mesmo quando específicas, são inúmeras e com opiniões diferentes dos especialistas. Impossível uma mãe dar conta e mesmo que fosse possível, será que o pequeno, quando grande, não se sentiria privado do direito de escolher que características gostaria ou não de desenvolver. (Nunca escrevi um parágrafo com tantos termos e expressões vagas e indefinidas heheheh Releia dando ênfase às palavras em itálico.)

Resolvi "deixar rolar". Resolvi acreditar na capacidade da minha filha de se superar sozinha. Se ela precisar de ajuda darei a mão, mas não vou fazer por ela, vou ajudá-la

Lembrando também que mesmo que algo venha a ser considerado anormal, não necessariamente é algo patológico. E hoje em dia tudo está sendo patologizado... ninguém fica mais cansado, fica estressado, não se fica mais triste, é deprimido, as crianças não são mais danadas ou sem limites, são "hiperativas". Essa patologização de tudo acaba apavorando as mães. "Será que meu filho tem algum distúrbio, síndrome, anomalia?" 

Claro que essas patologias existem. O problema está sendo a banalização dos termos e o excesso de diagnósticos precipitados, principalmente no que diz respeito a medicalização. 


Ontem estávamos em um aniversário de um dos coleguinhas da escola e conversando com o pai de um coleguinha de classe que tem necessidades especiais (paralisia cerebral e hidrocefalia, se não me engano) falei sobre a questão de que cada criança é única e que cada uma tem a suas limitações, seu tempo para desenvolver alguma característica ou comportamento. Por exemplo a ML é quase seis meses mais velha que a Nadine, mas também estava com medo dos fantoches que estavam se apresentando na hora, o G. não estava com medo, mas ele nunca ficou na escola sem chorar, coisa que as meninas não faziam, já o amiguinho dito "deficiente" nem chorava na escola, nem estava com medo dos bonecos. 

E então, qual deles é o "normal"?!

A justificativa que me vem à cabeça quando penso no porquê das mães terem tanto medo que seus filhos sejam rotulados como anormais é o medo do preconceito que acompanha quem é diferente da maioria, seja qual for o motivo da diferença, deficientes físicos, ou mentais, portadores de síndromes como a de down e a asperger, autistas, gays, gordos, negros, quem escolhe uma religião diferente, etc, etc, etc...


Esse medo até se justifica, pois o preconceito é algo que machuca (e muito) não só a vítima, como a sua família e amigos. Porém acredito que em vez de tentar enquadrar seus filhos dentro de conceitos ditados por uma sociedade de valores deturpados, as mães deveriam ensinar seus filhos a terem orgulho daquilo que os diferencia, ressaltando que as diferenças não tornam ninguém melhor ou pior do que as outras pessoas.

Somos todos humanos, todos temos dificuldades para aprender alguma coisa seja matemática (meu caso), dança, andar de skate, etc. Assim como temos características pessoais diferentes alguns são tímidos, outros expansivos, outros solitários por opção, outros super-ativos (perceba a diferença: isso não é patológico), dispersos, super-concentrados... e qualquer outra coisa que você conseguir lembrar que você é, ou gostaria de ser...

Então, mães, antes de temerem que seus filhos sejam vítimas de preconceitos, libertem-se dos seus próprios!!!

Cristine Cabral

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Reconhecimento é bom e todo mundo gosta

Cena:  Uma mãe num shopping e o filho de 7 anos quer que ela compre um brinquedo, para conseguir o menino começa a falar alto e a sapatear e para fazê-lo parar a mãe diz:
- Para com isso! Está todo mundo olhando para você!

Tudo normal, o problema está que, nesse caso, o menino adora aparecer, adora ser o centro das atenções, então o que a mãe pensa ser uma ameaça de punição torna-se um sinalizador de reforço. Principalmente se a criança souber que em público a mãe não fará uso da força física, caso ela seja adepta da palmada. Então a birra dele provavelmente vai aumentar, depois de ouvir essa frase.

Meu objetivo hoje é falar sobre o que nós, analistas do comportamento, chamamos de reforço positivo. É o ganho por emitir determinado comportamento. (Ressaltado que trabalhamos com probabilidades, não com causa e efeito. O ser humano é muito complexo para que se consiga analisar todas as variáveis envolvidas)

Já ouvi de um pai na clínica a seguinte frase: "Não vou recompensar meus filhos por eles fazerem o que é obrigação.". Ok. É uma escolha, é uma forma de educar... a mais comum podemos dizer. Porém neste caso, não são os reforçadores que incentivam o comportamento, mas sim a tensão da esquiva por uma possível punição. 

É necessário atenção sobre como o comportamento será reforçado, por ser algo muito particular. Exemplo: Numa empresa quem tem boas ideias tem o privilégio de apresentá-las pessoalmente à diretoria. Ok. Mas nesse caso o funcionário que for tímido, jamais apresentará suas ideias por melhores que sejam, ou vai passá-las para um outro ganhar os méritos.

Fomos educados numa sociedade punitiva, onde o erro chama muito mais atenção do que o acerto, assim as pessoas ficam muito mais atentas às possíveis punições do que aos possíveis reforçadores. Mas isso não justifica que façamos o mesmo com nossos filhos. Elogio é bom e todo mundo gosta.

Exemplo: eu mesma muitas vezes não estou com vontade ou com inspiração para escrever aqui. Poderia deixar para lá... afinal não receberia nenhuma punição. Mas então imagino que se eu tivesse um chefe chato no meu pé, conseguiria arrumar tempo, inspiração, vontade, etc. Assim como se fosse para ganhar dinheiro (o reforçador arbitrário universal). E então lembro de como me faz bem escrever o que eu penso e sinto, lembro de como fico toda feliz quando leio algum comentário aqui, lembro da satisfação que tenho quando vejo a linha das estatísticas subindo... 

Ou seja, não é um ganho imediato, instantâneo, é a longo prazo. E isso as crianças não entendem, principalmente as menores de 5 anos e os adolescentes (em alguns casos). Para conseguir que a criança consiga o sucesso pleno é preciso que os passos dados sejam reconhecidos. Exemplo: Tirar a fralda. Usar o banheiro é algo complexo: 1- perceber se há vontade, 2- controlar os esfíncteres, 3- localizar o local adequado e a distância, 4- chegar até o banheiro ainda controlando a vontade, 5- tirar a roupa, 6- sentar-se (ou ficar em pé no caso do xixi dos meninos), 7- liberar a saída, 8- limpar-se (normalmente a última conquista a ser alcançada), 9- vestir-se, 10- dar descarga, 11- lavar as mãos. Fica tudo mais tranquilo para o pequeno aprendiz se ele vê cada pequena conquista ser comemorada, do que ter que fazer tudo isso para evitar que a mãe fique decepcionada, por que não conseguiu, ou mesmo chateada, ou zangada por que fez sujeira na roupa.

Não é tarefa fácil... se as vezes é difícil perceber o que reforça a mim mesma, imagine perceber o dos outros e pior ainda no caso de uma mãe que não é psicóloga e que tem filhos extremamente diferentes.

Mas vale o esforço, pois é muito melhor viver na expectativa das coisas boas que estão por vir, do que na eterna tensão de se esquivar das punições.

Gostaria muito de poder passar para vocês uma lista de comportamentos e reforçadores, mas isso não existe! Pois além das diferenças entre as pessoas, existe as mudanças que a pessoa sofre ao longo da vida... Então o que posso dizer é que observem seus filhos, vejam o que os fazem felizes, conversem, perguntem, compartilhem com eles toda conquista, mesmo que seja o campeonato de futebol de botão do condomínio, participem da vida dos seus filhos, só assim vocês vão conhecê-los melhor. E só assim eles vão ter 100% de confiança para compartilhar com você os medos, as dúvidas e os erros, pois ele saberá que encontrará apoio e conforto e não crítica e punição.

Esse assunto é bastante complexo, mas aos poucos vou explicando. Caso ainda não tenha lido e queira ler um pouco mais, recomendo o outro post sobre o assunto: Punir, só, não resolve 

Com calma e paciência as coisas vão dando certo... ;-)

Cristine Cabral

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

... e o Papai Noel?!


Dezembro chegou... Decoração de Natal, luzes, pinheiros e Papais Noel espalhados em cada canto da cidade. 

O texto abaixo foi copiado de uma conversa real que tive com o pai da Nadine:



Cristine Cabral
Ainda estou pensando se faço ou não ela acreditar em Papai Noel
Eu não gosto muito da ideia... mas ainda estou vendo


Vicente Igor
O pai tem opinião tbm?

Cristine Cabral
sim
Que tu acha?


Vicente Igor
Acho que poderíamos fazer uma mistura...
Não o simples fato de não acreditar
Mas dela saber dele e saber do real
Não sei bem... Ao certo como seria...
Pois sem acreditar... O natal perde bastante encanto

Cristine Cabral
Acho que estou entendendo


Vicente Igor
Pq tipo..
A Lia (prima)... Eh uma mistura
Ela sabe do Papai Noel, do Menino Jesus
E de tudo mais
E mesmo assim consegue fantasiar

Cristine Cabral
Eu não sou fã de Papai Noel que pra mim é tipo o pai do consumismo :P  Prefiro incentivar a mais a parte do nascimento de Jesus


Vicente Igor
Eh... Entendo...
Mas a magia do natal eh o clima de natal, arvores, papai noel etc

Cristine Cabral
vou escrever uma cartinha pro Papai Noel, mas mais agradecendo que pedindo... tipo como se fosse uma oração.


Vicente Igor
Queria poder entender mais pra ser mais pai pra Nadine.. Algumas coisas vão ser bem difíceis
Mas assim...
Vamos explicando pra ela....
Mas temos que combinar

Cristine Cabral
humrum
pra ser a mesma história
só não quero essa coisa de pedir.
Pq acho feio quem pede presente, mesmo que seja pro Papai Noel, acho que a expectativa do "que será que vou ganhar" mais legal e sem falar dos bolsos... vai que ela resolve pedir coisas que a gente não pode dar
Ela anda empolgada com uma Mônica Patinadora que a Maria Luiza (amiguinha da escola) tem, mas a boneca é mais de R$200,00...


Vicente Igor
aff
metade do colégio
=P
Enfim...

Cristine Cabral
Pois é... mais que a bicicleta

Vicente Igor
Eu confio minha vida em vc em relação a Nadine...
o que quiser minha opinião, eu darei com prazer e dever de Pai...
mas nem sempre irei entrar no assunto pois, nunca sei o que me diz ou não respeito... enfim...
acho que essa coisa do Natal
é melhor levar pro lado católico, do que pro lado consumismo
Mesmo os pais (eu e tu) não sendo nada católicos... mas é uma linha de pensamento mais saudável do que o Papai Noel.

Cristine Cabral
Pra mim é melhor explicar o que a data significa, sobre recomeço, solidariedade, família, etc

Vicente Igor
Só que, o que ela vai ver ao longo da vida... é Papai Noel, árvores, renas etc

Cristine Cabral
Vai ser no ritmo dela... como ela ainda tem medo e não quer conversa... esse ano deixa assim... vou escrever a cartinha com ela, mas mais pra ir passando a mensagem.
Se quiser escrever uma também... :)

Vicente Igor
hummm
rsrsrs
será que vou saber?
=P

Cristine Cabral
eheheh
sei não...

Vicente Igor
Mas... a cartinha tu vai puxar pro lado da mensagem? ou do Papai Noel mesmo?

Cristine Cabral
Vou escrever pro Papai Noel, mas como se estivesse falando pro Papai do Céu... tipo assim...


Vicente Igor
humrum

Cristine Cabral
Criar a ideia de Bom Velhinho, que fica feliz quando as crianças se comportam
que vem pra trazer mais alegria pras famílias
coisas que são ditas nas propagandas :P
pra combinar o que ela vai ver por aí, com o que vou dizer por aqui

Vicente Igor
humm
certo...
vou fazer isso tbm...
=)

Cristine Cabral
Nem falar na parte do presente... deixa isso pra quando os amigos começarem a falar
não associar natal a presente, mas a família e bondade, etc

Resolvi copiar essa conversa aqui não só para falar sobre os meus valores e minha forma de ver uma coisa tão “inocente” que a maioria das pessoas nem para para analisar. Mas principalmente para mostrar que é possível pais separados conseguirem conversar e entrarem em acordo sobre tudo que diz respeito à educação dos filhos. Basta que haja disponibilidade das partes em se entenderem e colocarem bem estar dos filhos em primeiro lugar.

Boas Festas,

Cristine Cabral